São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2010

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Sul tenta recuperar década perdida na economia nacional

Região enfrenta concentração de riqueza em centros urbanos e vive, nos últimos anos, perda da participação no PIB nacional ; candidatos aos governos estaduais miram promessas no incentivo às microrregiões com dificuldades para agregar valor à produção local e modernizar a economia

GRACILIANO ROCHA
ENVIADO ESPECIAL A QUARAÍ (RS)

Os próximos governadores do Rio Grande do Sul, de Santa Catarina e do Paraná terão o desafio de recuperar o terreno perdido pela região na economia brasileira durante o governo Lula.
De 1995 a 2003, a participação da região Sul no PIB (Produto Interno Bruto) nacional cresceu de 16,2% para 17,7%. De 2003 a 2007, essa proporção caiu para 16,6%, segundo dados do IBGE.
A parte da equação que cabe aos próximos mandatários inclui o fomento à produção em regiões economicamente deprimidas por meio de políticas de combate às desigualdades regionais.
Apenas cinco municípios respondem por cerca de um quarto da riqueza da região Sul: Curitiba (PR), Joinville (SC) e as gaúchas Porto Alegre, Canoas e Caxias do Sul.
O caso mais emblemático é o do RS, maior economia da região. A realidade econômica e social do Estado lembra à da Itália, um país dividido entre o norte rico e industrializado e o sul pobre.
O próspero norte gaúcho é exemplo de dinamismo econômico e social. Dos cem municípios que compõem a elite do Índice de Desenvolvimento Humano no Brasil, 33 estão na Serra Gaúcha ou na Grande Porto Alegre. O primo pobre é o Pampa, na divisa com a Argentina e o Uruguai. Os moradores empobreceram desde o Pós-Guerra pelo declínio da pecuária.

ECONOMIA DIZIMADA
A história da Cooperativa de Lãs Quaraí (600 km de Porto Alegre) se confunde com a da decadência do Pampa e pode ser exemplo do que ocorre em outras partes dos três Estados sulistas.
Fundada em 1952, quando os municípios da fronteira com o Uruguai ainda eram o motor da economia do sul do país graças à carne e à lã, a cooperativa definhou de crise em crise.
O rebanho de ovelhas caiu de 400 mil para 160 mil, puxando para baixo a produção de lã -hoje de 450 mil quilos/ano, 25% do que já produziu. A produção é exportada "in natura" e parte volta ao Brasil, já industrializada, como "made in Uruguay".
Para o presidente da Fundação de Economia e Estatística do RS, Adelar Fochezatto, a incapacidade de agregar valor à produção e modernizar a economia primária é a raiz do empobrecimento do Pampa, enquanto a serra gaúcha e a região de Porto Alegre se industrializaram.
A chamada "metade sul" já respondeu por 40% do PIB gaúcho até os anos 1940. Hoje, representa menos de 20%.
Entre 1999 e 2007 -período em que petistas, peemedebistas e tucanos se revezaram no governo -as 11 cidades da fronteira oeste ficaram entre as que mais perderam população no país.
Ali houve redução de 7,3%, enquanto a população do Estado cresceu 4,4%. Nenhuma delas aparece entre as 500 primeiras em IDH.
O declínio populacional é provocado por migrações motivadas pela busca de trabalho. "Deve haver uma outra Quaraí na Serra Gaúcha. Aqui só ficam os bem teimosos", afirma o veterinário Roberto Arzeno da Silva, dirigente da cooperativa.


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