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Os alagamentos serão eliminados?
Mesmo com investimentos pesados, o problema não será resolvido por completo, por causa da excessiva impermeabiliza ção do solo, da localização da cidade e da falta de obras e planejamento nas décadas passadas
DA REPORTAGEM LOCAL
A água acumulada no asfalto, atingindo a cintura dos
moradores e entrando pelas frestas das casas, enquanto objetos e automóveis são arrastados
pela correnteza, forma uma cena
comum nos meses de verão e que
continuará a se repetir na paisagem paulistana pelas próximas
décadas, segundo especialistas
ouvidos pela Folha.
Engenheiros e geógrafos apontam três fatores como responsáveis pela permanência das enchentes no cotidiano da cidade: a
impermeabilização do solo gerada pelo processo de urbanização,
a falta de investimentos em obras
de drenagem ao longo das décadas passadas e a própria localização da cidade.
Em um prognóstico, decretam:
se as obras estruturais forem feitas continuamente, a impermeabilização do solo for contida e a
ocupação das áreas de mananciais for controlada, as inundações vão permanecer, mas os seus
efeitos poderão ser minimizados,
melhorando a qualidade de vida
da população afetada.
"A cidade não tem meios de
controlar as inundações no curto
prazo. Mas, com obras e medidas
preventivas, vamos ficando a cada
ano um pouco melhor", explica o
engenheiro Mário Thadeu Lemes
de Barros, professor do Departamento de Engenharia Hidráulica
e Sanitária da Poli/USP.
Barros conta que existem cerca
de 500 pontos de inundação em
São Paulo, gerados ao longo dos
anos principalmente pelo crescimento desordenado da cidade.
Com a impermeabilização do solo, a água da chuva escorre de maneira mais superficial, indo diretamente para rios, córregos e galerias. Quando esses não conseguem transportar toda a água,
ocorrem as inundações.
Antes da formação da cidade, as
inundações eram uma característica natural da região da bacia do
Alto Tietê, abrangendo colinas e
amplas várzeas. A geógrafa Vanderli Custódio, do Departamento
de Geografia da USP, autora de tese sobre enchentes em São Paulo,
afirma que mais de 60% do território da região metropolitana assemelha-se a um grande reservatório elevado, com apenas um canal de esvaziamento.
Planejamento
Não houve um planejamento da
ocupação do solo e nem uma política pública de longo prazo para
obras de drenagem, afirma o geógrafo Augustinho Ogura, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas da
USP. "A enchente virou problema
quando a cidade invadiu as áreas
de várzea e foi além, ocupando
áreas de cabeceira de rios, aumentando o desmatamento e ampliando as moradias precárias."
Custódio afirma que não é possível discutir saídas definitivas,
mas soluções eficientes para as
inundações, com a adoção continuada de medidas preventivas e
um novo enfoque para as obras de
drenagem, que até hoje, segundo
ela, copiaram modelos de outros
países sem considerar as particularidades da região.
A geógrafa enfatiza também a
importância de considerar o aspecto social das enchentes, uma
vez que a maioria dos pontos de
inundações está nos bairros periféricos e com mais carência de infra-estrutura. Nessa parte, o trabalho de conscientização da população deverá ser feito continuamente e o uso do solo controlado,
para não aumentar as moradias
precárias em áreas de mananciais
e locais de risco.
A obra de rebaixamento e ampliação da calha do rio Tietê, feita
pelo governo do Estado, e a construção, por parte da prefeitura e
do Estado, de piscinões em áreas
problemáticas são apontadas por
Barros como ações necessárias
para não piorar a situação atual.
"Essas obras vão reduzir as enchentes, mas é um investimento
que sempre terá de existir. Será
preciso continuar com as obras de
drenagem e tentar conter a expansão e impermeabilização da
cidade. As medidas não-estruturais, preventivas, são tão importantes quanto as obras de drenagem, ou até mais do que elas."
(SIMONE IWASSO E CHICO DE GOIS)
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