São Paulo, sábado, 24 de agosto de 2002

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POBREZA

Futuro em risco

France Presse-26.fev.1999
Multidão superlota rodoviária de Lagos, Nigéria



Representantes de 189 países se reúnem a partir de segunda-feira na África do Sul, no maior encontro da história das Nações Unidas. Em pauta, o destino do planeta


CLAUDIO ANGELO
EDITOR-ASSISTENTE DE CIÊNCIA

Durante dez dias, a partir de segunda-feira, governos de 189 países se reúnem em Johannesburgo, na África do Sul, para tentar -mais uma vez- salvar o planeta do colapso socioambiental.
O encontro, batizado de Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável, ou Rio +10, marca os dez anos da Eco-92, no Rio de Janeiro, primeiro grande esforço das Nações Unidas para tentar conciliar duas necessidades antagônicas: o futuro da Terra e o desenvolvimento econômico.
A julgar pelos indicadores da saúde do mundo e de seus habitantes na década que passou, a primeira tentativa de salvamento não foi suficiente. Os mesmos problemas que tiravam o sono dos cientistas ambientais antes da Eco-92 -efeito estufa, extinção de espécies, superpopulação e degradação dos solos- continuam ameaçando a humanidade.
Na verdade, o refinamento da pesquisa científica revelou que a situação está pior do que se imaginava na cúpula do Rio. O aquecimento global, cuja ligação com as atividades humanas era questionada em 1992, foi estimado em 0,6C no último século e projetado em até 5,8C no próximo. E, sim, a culpa é do homem.
Um quarto das espécies de mamíferos está sob ameaça. Segundo estimativa da ONU, 70% da superfície do globo será afetada por estradas, cidades e mineração até 2032, se ninguém fizer nada.
A pobreza no Terceiro Mundo, causa e efeito da degradação ambiental, tampouco teve grande alívio na década da globalização. Estima-se em 1,2 bilhão o número de pessoas no planeta que vivem com menos de US$ 1 por dia. A maioria está na África, continente que sedia a conferência.
A Rio +10, apelidada de "Cúpula da Pobreza" por ter eleito a miséria como prioridade, tem a missão de aparar todas as arestas do Rio. A conferência deverá definir meios, prazos e metas de implementação da Agenda 21, a ambiciosa carta de intenções produzida na Eco-92 para pôr o planeta no rumo do tal desenvolvimento sustentável -o utópico conceito segundo o qual a satisfação das necessidades da geração atual não pode nem deve comprometer os recursos dos quais dependem as gerações futuras.
Não será uma tarefa simples. Primeiro, por "metas e meios", deve ser entendido dinheiro para investir no ambiente e nos países pobres. Na atual conjuntura econômica internacional, os países ricos não parecem muito dispostos a pôr a mão no bolso.
Depois, o clima político mundial nunca esteve tão hostil à cooperação entre as nações, desde a Guerra Fria. Com a subida de George W. Bush ao poder, os EUA passaram sistematicamente a desprezar os acordos multilaterais, especialmente na área ambiental. O símbolo maior dessa guinada ao unilateralismo foi a rejeição do Protocolo de Kyoto (acordo contra os gases que causam o aquecimento global) por Bush em março de 2001.
O presidente, aliás, já avisou que não vai comparecer à Rio +10, diferentemente de seu pai, George Bush, que governava os EUA em 1992 e que ameaçou não ir, mas acabou comparecendo.
A falta do presidente da nação mais importante do mundo só agrava o desprestígio da cúpula de Johannesburgo, que estava programada para ser o maior encontro de líderes da história, mas que deve contar com menos chefes de Estado que a Eco-92.
Se os ânimos das nações não mudarem nos próximos dez dias, o futuro do planeta vai ter de esperar. Resta saber se ele aguenta.


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