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Achar substituto para o Taleban será tão difícil quanto derrubá-lo
DA REUTERS
Encontrar um novo governo
para o Afeganistão pode ser tão
difícil quanto derrubar o antigo.
Se a "guerra contra o terrorismo" dos EUA expulsar o Taleban
de Cabul, uma nova liderança
precisa surgir rapidamente para
preencher o vácuo deixado por
quase três décadas de comunismo, guerra e islamismo radical.
Mas nenhum sucessor óbvio
aguarda nos bastidores.
O nome do ex-rei Zahir Shah está sendo mencionado com mais
frequência, mas especialistas
crêem que sua idade avançada o
torna um candidato improvável.
É mais possível que o próximo
líder venha das fileiras de homens
que lutaram contra a União Soviética nos anos 80 e, depois disso,
sumiram de vista.
"Muitos dos mujahidin que
eram comandantes nos anos 80
devem reaparecer", disse Ahmed
Rashid, um especialista paquistanês em Afeganistão e Taleban.
Não está claro, contudo, como
sua influência será desenvolvida.
Mesmo nos melhores momentos,
a política afegã é um ninho de cobras com rivalidades tribais, lealdades obscuras e traições.
O fato de o nome mencionado
com mais frequência hoje ser o do
ex-rei Zahir Shah, 86 -exilado
em Roma desde sua deposição,
em 1973-, diz muito sobre o estado sombrio da política afegã.
A esquerda pró-Moscou que
governou até 1992 foi varrida do
mapa depois que os mujahidin
destruíram, em uma guerra civil,
o crédito que eles haviam ganhado ao derrotar a União Soviética.
O Taleban chegou ao poder em
1996 e foi visto como um "salvador da pátria" que restauraria a
paz, mas acabou ganhando a inimizade de muitos muçulmanos
moderados com seu extremismo.
Zahir Shah nem mesmo deseja
voltar ao poder, mas é a única figura que os afegãos permitiriam
coordenar uma assembléia tribal
para escolher um novo líder.
"Temos de dar poder ao povo
afegão", disse Hamid Karzai, um
líder tribal pashtu da área de Candahar que foi ex-vice-ministro de
Relações Exteriores no governo
mujahidin, de 1992 a 1994.
"O rei não se ofereceu para nenhum trabalho, ele simplesmente
quer ajudar o povo afegão a retomar sua soberania."
Karzai trabalha há muitos anos
com o ex-rei e outros líderes exilados para tentar organizar uma
Loya Jirga, uma assembléia de 700
a 1.000 pessoas que se reuniria para escolher um novo líder tão logo
o Taleban fosse deposto. Mas
quem poderia ser o escolhido?
O líder da oposição com mais
destaque atualmente é Burhanuddin Rabbani, 60, que era presidente quando o Taleban tomou Cabul
em 1996 e ainda é reconhecido como tal pela ONU.
Sua Aliança do Norte, aliada a
outros grupos de oposição do
Afeganistão, está combatendo o
Taleban, e diplomatas dizem que
poderia receber auxílio material
dos EUA em breve para promover ataques a Cabul.
Mas Rabbani acaba de perder
seu melhor comandante, o lendário Ahmad Shah Masood, morto
dias antes dos ataques a Nova
York e a Washington.
E, mesmo que vencesse no campo de batalha, a aliança enfrentaria uma verdadeira guerra para
conseguir governar em Cabul, já
que é formada por tadjiques, uzbeques e outras minorias.
Entre os pashtus, a maioria étnica que tradicionalmente governa
o país, muitos ex-comandantes e
líderes tribais foram jogados para
escanteio pelo Taleban, formado
majoritariamente por pashtus.
Abdul Haq, que promoveu
bombardeios espetaculares a Cabul durante a guerra contra a
União Soviética até perder uma
perna em combate, tem o respeito
dos pashtus e o apoio dos EUA.
Mas outro pashtu proeminente,
o líder islâmico radical Gulbuddin Hekmatyar, poderia desequilibrar a equação.
Hekmatyar, um dos líderes
mais controversos da guerra soviética, atacou outros líderes mais
frequentemente do que combateu
os russos e declarou uma guerra
contra o primeiro governo mujahid. Bombas enviadas por suas
forças transformaram grande
parte de Cabul em ruínas em 1993.
"Hekmatyar estragou tudo na
época e poderia estragar tudo
agora", disse Rashid, observando
que Islamabad apóia Hekmatyar
desde os anos 70.
O Paquistão tem o hábito de se
intrometer na política afegã para
impedir que Cabul reivindique
áreas pashtus controladas pelo
Paquistão e para manter um vizinho muçulmano amigo, que dá
ao país "profundidade estratégica" contra a rival Índia.
Mas Karzai e Rashid advertiram
contra deixar o Paquistão ter um
papel tão ativo em questões afegãs. "Se os americanos deixarem
que isso aconteça, será o fim de
tudo", disse Rashid.
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