São Paulo, sexta-feira, 24 de setembro de 2004

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ELEIÇÕES 2004

TEMPO FECHADO

Petistas cercam e hostilizam Serra, que reage e desafia militantes na rua

A dez dias das eleições, o clima de guerra entre petistas e tucanos pela disputa da maior prefeitura do país ganhou proporções inéditas ontem e virou, literalmente, caso de polícia. O candidato do PSDB à Prefeitura de São Paulo, José Serra, visitou um tradicional reduto petista, no extremo sul da cidade, e foi recebido por um exército de cabos eleitorais, que o hostilizaram.
"Cadê a coragem? Cadê a coragem? Repete o que você disse", desafiou Serra a um militante petista. Irritado, Serra acusou o PT de promover uma "campanha sórdida e truculenta". Já o presidente municipal do PT e coordenador-geral da campanha de Marta, Ítalo Cardoso, culpou Serra "por provocar uma foto de vítima". Essa é a quarta vez que militantes do PT e do PSDB entram em confronto, numa prova de quanto a temperatura subiu.

CATIA SEABRA
DA REPORTAGEM LOCAL

CAIO JUNQUEIRA
DA FOLHA ONLINE

Comprimido numa calçada, tendo de desviar de bandeiras do PT e chamado de sanguessuga e vampiro, o candidato do PSDB, José Serra decidiu bater boca com quatro cabos eleitorais do PT em menos de 20 minutos de caminhada na Zona Sul. Sempre no meio da rua.
"Quanto estão te pagando?", perguntou ele à militante Julia Kelli Gomes, de 21 anos.
"Não interessa", respondeu ela.
"Fala aí. Estão te pagando muito?", insistiu Serra que, no desabafo a assessores, chegou a falar um palavrão.
Ele foi informado por assessores do clima tenso antes mesmo de ir para o ponto de encontro, na praça onde fica o comitê de campanha do presidente da Câmara, Arselino Tatto. Alertado, manteve o compromisso, segundo contou o deputado Walter Feldman.
Apesar de avisada, a equipe de Serra perdeu o rumo quando chegou à Vila São José às 13h35m. Por ordem do coordenador regional de Capela do Socorro, Glauco Piai, os cabos eleitorais assediaram o candidato. "Vai em cima, vai em cima", dizia Piai.
Depois de um zigue-zague pela rua Carlos Obehuber, Serra foi conduzido por tucanos até a calçada, onde se fechou o cerco. Já ali, uma das militantes do PT saltou freneticamente à frente de Serra. O candidato conteve quem tentasse tirá-la da calçada. "Deixa. Deixa. Não entra nessa", disse Serra, que disse que pedirá proteção à Justiça para atividades de campanha.
Seguido por cabos eleitorais, que o xingavam e empurravam, e por dois veículos da campanha de Marta, Serra avançou sobre um militante que, batendo sobre uma das peruas, o xingava. Enquanto o deputado federal Alberto Goldman gritava para que parasse, Serra exigia que o militante repetisse as críticas.
"Eles têm medo. Quando me aproximo, fogem", comentou.
De volta à calçada, a confusão era tanta que Serra foi levado à loja da qual acabara de sair. Entrou numa farmácia, onde, em conversa com deputados, rechaçou a possibilidade de ir embora. Entrou num barbeiro, limpou o suor e voltou para a rua. Novo embate.
De acordo com Piai, 250 cabos eleitorais e 16 peruas foram acionadas assim que constatada a presença dos tucanos.
Em entrevista, Serra chamou de "fascistóide" o comportamento petista de "calar o adversário pela violência". Classificando como sórdida a campanha petista, disse que viveu "momentos assim antes de 64 com o CCC, Comando de Caça aos Comunistas, e no Chile com o Patria e Libertad, de extrema direita".
Foi, no entanto, o coordenador-geral da campanha do PT, Ítalo Cardoso, que levou o caso à polícia. Cardoso acompanhou quatro militantes que se disseram agredidos por um segurança do PSDB -identificado por eles como Wagner. De acordo com o boletim, eles faziam panfletagem quando, "repentinamente, surgiu uma passeata do PSDB" tendo Serra à sua frente. Ao passarem pelas vítimas, "as pessoas começaram a agredi-las".
Entre eles, Érica Regina dos Santos mostrou uma marca no braço esquerdo, dois arranhões no quadril e um no tornozelo, ferido após uma queda. Áurea Araújo de Oliveira disse que teve o cabelo puxado. Além delas, Natali Verônica Ferreira e Geremias Castro de Oliveira registraram queixa por lesão corporal dolosa. "É o supra-sumo da cara de pau. Se fizer a barba, sai serragem", ironizou Serra.
Amauri Trozile, cinegrafista da campanha de Serra, também registrou queixa. Ele disse ter sido agredido por petistas e foi levado ao Hospital Geral do Grajaú.


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