|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
SP 450
CIDADE SEM ROSTO
Diminuem as citações a Maluf; Silvio Santos é o segundo mais lembrado pelos paulistanos e o primeiro entre brasileiros
Para a maior parte, ninguém é a cara de São Paulo
SÉRGIO DÁVILA
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é Rita Lee, como queria
Caetano Veloso em sua "Sampa".
Não é nem mesmo o próprio Caetano. À pergunta "Das pessoas famosas que você conhece, mesmo
que só de ouvir falar, qual na sua
opinião tem mais a cara de São
Paulo", feita pelo Datafolha para
moradores da cidade em novembro e dezembro do ano passado, a
maioria respondeu "não sei".
São Paulo tem cara indecifrável
para 26% dos ouvidos, índice que
cresce para quase um terço das
respostas se incluir a parcela dos
que responderam "ninguém"
(4%). "É uma cidade sem memória, que estimula o individualismo, o salve-se-quem-puder",
acredita Miriam Chnaiderman,
psicanalista e documentarista, autora de "Dizem que Sou Louco"
(1994) e "Alma na Mão" (inédito).
A falta de personalidade, se é
que se pode chamar assim, é ainda mais evidente ao se verificar o
resultado de levantamento com
moradores de oito Estados do
país mais o Distrito Federal: 36%
disseram não saber e 1% optaram
por declarar "ninguém".
Os nominados
Entre os nominados pelos moradores, a cidade começa a tomar
o rosto de alguém polêmico: 12
anos depois de vencer uma eleição e oito anos após ocupar seu
último cargo público, é Paulo Maluf a cara de São Paulo para 8%
dos ouvidos. Em segundo lugar
vem Silvio Santos, com 5%.
A situação se inverte nacionalmente. Aí, o apresentador de TV e
proprietário do SBT passa à dianteira, com 9%, deixando o político
paulistano na vice-liderança, com
5%. Mas Maluf volta ao topo em
outras duas questões, que talvez
definam sua relação com a cidade.
Para 21% dos ouvidos em São
Paulo, Maluf é o político que mais
ajudou a piorar a qualidade de vida dos moradores da cidade. Pois
para 26% do mesmo universo, é o
que mais ajudou a melhorar a
qualidade de vida. Paradoxal? "Isso é Paulo Maluf, sempre nos extremos", disse à Folha Eduardo
Kugelmas, professor do Departamento de Ciências Políticas da
Universidade de São Paulo.
Sua trajetória política confirma
a polarização. Maluf obteve 4,1
milhões de votos na última eleição a que concorreu, a governador do Estado, em 2002, mas não
ganha um pleito desde 1992,
quando se elegeu prefeito da cidade -ou seja, o malufismo continua forte em São Paulo, mas há
tempos não consegue levar mais
do que um terço dos votos.
A pesquisa comprova que seu
nome continua na memória, porém. "Com o fim dos conceitos de
esquerda e direita, só existe agora
quem está no governo e sofre todo o desgaste e quem não está,
que é o caso de Maluf", disse Antônio Flávio Pierucci, professor
do Departamento de Sociologia
da USP e autor do livro "Ciladas
da Diferença" (Editora 34, 1999),
sobre preconceito, entre outros.
"Ele sabe se beneficiar disso."
Opinião diferente tem o próprio
Paulo Maluf, que não descarta inclusive voltar a concorrer à prefeitura (leia texto nesta página).
Menos pontos
No quesito personalidade que
mais representa a cidade, embora
líder, Maluf perde pontos desde
que a pesquisa é feita entre os moradores: passou de 11% (2000) para 10% (2001) e os atuais 8%. Já
Marta caiu quase à metade, depois de um salto: de 1% (2000) para 7% (2001, quando assumiu a
prefeitura) para os atuais 4%.
Ainda nesse quesito, nacionalmente a prefeita de São Paulo empata com Gugu Liberato em terceiro lugar, com 3% -procurada
pela Folha via assessoria de comunicação, Marta Suplicy preferiu não comentar os resultados.
A partir daí, não há mais acordo: Hebe Camargo, colega de Gugu e ambos funcionários de Silvio,
é a quarta personalidade mais representativa para os moradores
de São Paulo (3%), mas se embola
em 5º lugar com outros 16 nomes
de diversas procedências no cômputo nacional (1%).
Ainda assim, se emocionou: "Isso já é demais para mim", disse a
paulista de Taubaté, de 73 anos,
que mora no Morumbi e está na
TV desde a inauguração da primeira emissora no país, em 1950.
"Amo isso aqui, apesar de todos
os problemas que a cidade tem."
É curioso perceber que, tanto
para os moradores de São Paulo
quanto para os de fora, a percepção da cidade passa fortemente
pelo SBT, a emissora criada por
Silvio Santos em 1981 no bairro do
Sumaré a partir do espólio da Tupi -são artistas da empresa 4 das
11 personalidades mais citadas em
São Paulo e três das sete mais lembradas nacionalmente, com Ratinho completando a lista.
"O resultado da pesquisa sugere
que as pessoas identificam o SBT
com São Paulo, como sugeriria
que a Globo é identificada com o
Rio se a localidade da pergunta
fosse outra", disse Esther Hamburger, professora do Departamento de Cinema, Rádio e TV da
ECA-USP (Escola de Comunicação e Artes) e doutora pela Universidade de Chicago. "Ou seja, é
surpreendente, mas tem lógica."
Para a crítica de TV da Folha,
não quer dizer que essa seria necessariamente a imagem que o
paulistano tem da cidade se a pergunta não fechasse no conceito de
famosos. "Não se sentem necessariamente representados por Maluf, Ratinho nem seja quem for."
Nem Caetano nem Rita, para
voltar a "Sampa" -a dupla foi
lembrada por apenas 1%, no caso
do músico baiano, e menos que o
suficiente para ser tabulado (1%),
no caso da roqueira paulistana.
Texto Anterior: Sertaneja e MPB são as mais ouvidas Próximo Texto: Paulo Maluf é apontado como o melhor e o pior Índice
|