|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PAULISTANOS
Rio Pequeno/Raposo Tavares
Iluminação precária aflige moradores
CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL
Aos 85 anos, o carreteiro João
Moreira representa como ninguém o perfil do morador do Rio
Pequeno, na zona oeste de São
Paulo. É mineiro, como 12% das
pessoas que vivem na região, trabalha como autônomo, como outros 10%, e crê que o ex-prefeito
Paulo Maluf seja o político que
mais tenha contribuído para melhorar a qualidade de vida na cidade, como pensam 30% dos moradores da região, segundo pesquisa Datafolha.
Sentado ao seu lado, em um
ponto de ônibus da av. do Rio Pequeno, o também aposentado Vicente de Mello, 82, tem perfil bem
semelhante. Ambos possuem
renda familiar média de R$ 500 e
se dizem satisfeitos com o bairro,
onde vivem há mais de 30 anos.
Não se incomodam com os núcleos de favelas que saltam aos
olhos de quem visita o local.
"Aqui todo mundo é pobre, não
tem frescura, não", diz Moreira.
Eles reclamam da falta de canalização do córrego que corta o
bairro e da iluminação pública,
apontada como precária em algumas ruas. "Tem muito lugar escuro. Isso é um prato cheio para
bandido", diz Mello.
Problemas com a iluminação
são citados por 5% dos entrevistados que moram na área que
abrange, além do Rio Pequeno e
de Raposo Tavares, Vila Leopoldina, Jaguaré e Jaguara. No total, a
luz foi motivo de queixa de 1%.
Segundo o subprefeito do Butantã, Carlos Alberto da Silva
Vieira, em toda a região há 270 lugares (entre ruas, praças, vielas e
travessas) com deficiência de iluminação. São lâmpadas que precisam ser trocadas ou locais que
nunca foram iluminados.
Ele afirma que um relatório sobre a situação foi enviado ao Ilume (Departamento de Iluminação Pública), que tem projeto de
trocar as lâmpadas de mercúrio
pelas de vapor de sódio, até seis
vezes mais fortes. O projeto é bancado, em parte, pela taxa da luz.
Vieira acredita que, pelo fato de o
Butantã ser bastante arborizado, a
"sensação de escuridão é maior".
A 20 km, na Vila Jaguara, a aposentada Juliana Kolya, 75, também reclama das ruas escuras. Em
1945, ela testemunhou a chegada
da energia elétrica ali. Filha de
imigrantes húngaros, lembra ter
sido chamada às pressas na fábrica de sabonete onde trabalhava
-ela tinha só 14 anos- para ver
a instalação do poste de eucalipto,
bem em frente à sua casa.
A luz foi "puxada" da Vila Leopoldina. Os primeiros cinco postes foram comprados por um grupo de moradores, entre eles o pai
de "dona Júlia", como ela é conhecida. "Só havia luz na cozinha
e na sala. Mas era como se nossa
casa tivesse se transformado em
um castelo."
Na Vila Leopoldina, a queixa fica por conta das quedas de energia em dias de chuva. "É um problema que deve piorar em razão
da alta densidade de prédios no
bairro. A rede não agüenta", diz
Gláucia Mendonça Prata, 47, presidente do Movimento Popular
de Vila Leopoldina.
Já Estefânia Ilovatte Oliveira, 56,
que mora em uma rua onde foram construídos oito conjuntos
de prédios nos últimos cinco
anos, diz que o bairro nunca esteve melhor. "Antes, isso [apontando para a área onde estão os prédios] era um brejo. Depois vieram
as indústrias, que faliram e viraram galpões abandonados. Agora
está uma maravilha", diz.
Mas a luz não é nem de longe o
problema que mais incomoda os
moradores do bairro. A usina de
compostagem de lixo da Vila Leopoldina, instalada no bairro há 30
anos, é líder nas reclamações.
"Em dezembro, acordei às 2h30
com o cheiro. É insuportável", diz
a socióloga Lucimar Queiroz, 53,
que, juntamente com Prata, luta
para que a usina seja desativada.
Texto Anterior: Perdizes/Pinheiros: Miscelânea de idéias é uma das marcas Próximo Texto: Morumbi/Butantã: Classe A divide espaço com favelas Índice
|