São Paulo, domingo, 25 de janeiro de 2004

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PAULISTANOS

Rio Pequeno/Raposo Tavares

Iluminação precária aflige moradores




CLÁUDIA COLLUCCI
DA REPORTAGEM LOCAL

Aos 85 anos, o carreteiro João Moreira representa como ninguém o perfil do morador do Rio Pequeno, na zona oeste de São Paulo. É mineiro, como 12% das pessoas que vivem na região, trabalha como autônomo, como outros 10%, e crê que o ex-prefeito Paulo Maluf seja o político que mais tenha contribuído para melhorar a qualidade de vida na cidade, como pensam 30% dos moradores da região, segundo pesquisa Datafolha.
Sentado ao seu lado, em um ponto de ônibus da av. do Rio Pequeno, o também aposentado Vicente de Mello, 82, tem perfil bem semelhante. Ambos possuem renda familiar média de R$ 500 e se dizem satisfeitos com o bairro, onde vivem há mais de 30 anos. Não se incomodam com os núcleos de favelas que saltam aos olhos de quem visita o local. "Aqui todo mundo é pobre, não tem frescura, não", diz Moreira.
Eles reclamam da falta de canalização do córrego que corta o bairro e da iluminação pública, apontada como precária em algumas ruas. "Tem muito lugar escuro. Isso é um prato cheio para bandido", diz Mello.
Problemas com a iluminação são citados por 5% dos entrevistados que moram na área que abrange, além do Rio Pequeno e de Raposo Tavares, Vila Leopoldina, Jaguaré e Jaguara. No total, a luz foi motivo de queixa de 1%.
Segundo o subprefeito do Butantã, Carlos Alberto da Silva Vieira, em toda a região há 270 lugares (entre ruas, praças, vielas e travessas) com deficiência de iluminação. São lâmpadas que precisam ser trocadas ou locais que nunca foram iluminados.
Ele afirma que um relatório sobre a situação foi enviado ao Ilume (Departamento de Iluminação Pública), que tem projeto de trocar as lâmpadas de mercúrio pelas de vapor de sódio, até seis vezes mais fortes. O projeto é bancado, em parte, pela taxa da luz. Vieira acredita que, pelo fato de o Butantã ser bastante arborizado, a "sensação de escuridão é maior".
A 20 km, na Vila Jaguara, a aposentada Juliana Kolya, 75, também reclama das ruas escuras. Em 1945, ela testemunhou a chegada da energia elétrica ali. Filha de imigrantes húngaros, lembra ter sido chamada às pressas na fábrica de sabonete onde trabalhava -ela tinha só 14 anos- para ver a instalação do poste de eucalipto, bem em frente à sua casa.
A luz foi "puxada" da Vila Leopoldina. Os primeiros cinco postes foram comprados por um grupo de moradores, entre eles o pai de "dona Júlia", como ela é conhecida. "Só havia luz na cozinha e na sala. Mas era como se nossa casa tivesse se transformado em um castelo."
Na Vila Leopoldina, a queixa fica por conta das quedas de energia em dias de chuva. "É um problema que deve piorar em razão da alta densidade de prédios no bairro. A rede não agüenta", diz Gláucia Mendonça Prata, 47, presidente do Movimento Popular de Vila Leopoldina.
Já Estefânia Ilovatte Oliveira, 56, que mora em uma rua onde foram construídos oito conjuntos de prédios nos últimos cinco anos, diz que o bairro nunca esteve melhor. "Antes, isso [apontando para a área onde estão os prédios] era um brejo. Depois vieram as indústrias, que faliram e viraram galpões abandonados. Agora está uma maravilha", diz.
Mas a luz não é nem de longe o problema que mais incomoda os moradores do bairro. A usina de compostagem de lixo da Vila Leopoldina, instalada no bairro há 30 anos, é líder nas reclamações. "Em dezembro, acordei às 2h30 com o cheiro. É insuportável", diz a socióloga Lucimar Queiroz, 53, que, juntamente com Prata, luta para que a usina seja desativada.



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