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Rio já está morto mesmo com projeto de despoluição
Possibilidade de o Tietê voltar a ter peixes na capital é descartada
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
O homem joga a bituca de cigarro na calçada. A mulher esquece de recolher as fezes do
seu cachorro durante o passeio
vespertino. No sábado pela manhã, o programa ainda pode ser
lavar carros na rua.
Todo esse lixo, sólido e líquido, vai chegar ao Tietê e aos
seus afluentes quando chove.
Sem falar no esgoto doméstico,
a principal fonte poluidora do
rio, que entra limpo na cidade
de Mogi das Cruzes.
A chamada poluição difusa
-toda sujeira despejada no rio
sem ser esgoto- matou definitivamente o Tietê na cidade de
São Paulo, afirmam os especialistas. Ela representa cerca de
30% do esgoto que compõe a
água escura que se vê da marginal, estima a Sabesp.
Mesmo que o programa de
despoluição do rio paulista
atinja as suas metas em alguns
anos e praticamente corte o
fornecimento de esgoto para o
Tietê, ele nunca mais vai ter
peixes. O rio está morto, porque a carga de poluição difusa
será sempre longe de zero.
"Você pode até ter um ou outro peixe entrando [sob a ponte
das Bandeiras ou dos Remédios, por exemplo] mas ele vai
viver pouco tempo e morrer",
afirma Malu Ribeiro, coordenadora de projetos da ONG
SOS Mata Atlântica, instituição
que, historicamente, vigia a
qualidade ambiental do rio.
Além das bitucas, dos restos
da lavagem do carro e dos dejetos animais, tem muito mais
coisa, afirma Antonio Costa e
Silva, engenheiro civil da Sabesp. "O resto dos pneus dos
carros, as toneladas de carbono
que existem no ar [por causa da
queima de combustível]. Tudo
vai para o rio quando chove."
Pelo cronograma da companhia de água, o grande marco
será o ano de 2018. "Nós vamos
universalizar a coleta e o tratamento de esgoto [nos municípios atendidos pela Sabesp]",
afirma Costa e Silva.
Números de hoje mostram
que o projeto de despoluição do
Tietê já conseguiu avanços.
"Saímos de um patamar de
4.000 litros por segundo de esgoto tratado, em 1992, para os
atuais 16 mil litros por segundo,
em média", diz a Sabesp. Até
agora, foram investidos no programa R$ 1,6 bilhão, entre recursos estaduais e federais.
Apesar disso, relatórios da
Cetesb (agência ambiental do
Estado) mostram que a situação continua "péssima" no Tietê na capital. "Essa é a classificação da água no nosso ponto
de coleta na ponte dos Remédios, por exemplo", diz Nelson
Menegon Júnior, gerente da divisão de qualidade das águas e
do solo da Cetesb.
Em números aproximados,
diz Menegon Júnior, a vazão
média do Tietê é de 60 metros
por segundo. Porém, 37 metros
por segundo é formado por matéria orgânica biodegradável.
As bactérias comem esse esgoto e, neste processo, esgotam o
oxigênio disponível na água.
Por isso, não existe peixe.
Para a ambientalista da SOS
Mata Atlântica, mesmo sem
peixe, e muito menos sem a
possibilidade de mergulho no
Tietê na capital, a diminuição
de esgoto em direção ao rio terá
um benefício. "A melhora do
odor pode fazer, pelo menos,
que se pense em navegar no
Tietê a partir de 2018", afirma.
A questão, lembra Ribeiro,
não é apenas o cheiro, mas também o contínuo trabalho para
que o rio não seja assoreado. Ao
lado do desprezado Tietê, do
ponto de vista paisagístico pelo
menos, existe o Pinheiros.
Mas, apesar de integrado ao
horizonte da cidade, este canal
artificial tem uma água via de
regra pior que a de seu vizinho.
"Em dia quente, dá para sentir
isso da marginal", diz Ribeiro.
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