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Há 64 anos, casal namorava às margens do Tietê
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Todos os dias quando ia para
a Associação Atlética São Paulo, Mário Lago Negro, então aos
20 anos, passava em frente à casa de Odete Marsala. Ela, aos 17,
parada à porta ou à janela, recebia os elogios, risonha. O cortejo durou alguns meses, até que
ele tomou coragem e a pediu
em namoro. O ano era 1946.
Ele nadava, ela também, mas
cada um por um clube. Odete
era sócia do Regatas Tietê, onde entrou aos 10 e iniciou na
natação, praticada no cocho do
clube (piscina demarcada na
margem do rio). Quando os
dois começaram a nadar, a piscina do paulistano ainda era o
Tietê, que tinha a cara limpa
Cada um de um lado, o namoro não daria certo. Os clubes
não eram rivais, mas o tempo
que o casal ficava junto era precioso. "Era muito difícil namorar", diz Odete, hoje com 81.
Mário queria levar a namorada para seu clube, do outro lado
da rua. Só que Odete não quis
saber. Bateu o pé. "Eu era militante, participava de competições com Maria Lenk. Éramos
amigas", justifica-se, engrossando a voz. Sem alternativa,
mudou-se Mário.
Enfim, juntos
A decisão foi acertada. No
mesmo clube, os pombinhos
podiam nadar juntos, almoçar
juntos e até passear juntos sob
às árvores que existiam próximo à margem do Tietê.
O casamento aconteceria em
1951. Algum tempo antes, o casal passara à piscina construída
no clube, pois o rio já não era
mais "aquele" e João Havelange já tinha contraído febre tifoide na Travessia de São Paulo a
Nado, em 1944.
Em seguida viria a marginal,
afastando de vez Odete e Mário
das águas onde um dia mergulharam. "Infelizmente, hoje o
Tietê está sujo, não tem mais
ninguém. Era uma água limpíssima, maravilhoso", lembra. E
faz silêncio. O marido morreu
há quatro anos.
(FM)
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