São Paulo, segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

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País tem pelo menos 13 rios urbanos na UTI

A maioria está com a qualidade comprometida devido ao excesso de esgoto domiciliar e industrial

JAMES CIMINO
DA REPORTAGEM LOCAL

"Nossas cidades cresceram de costas para os rios. É uma questão cultural herdada da colonização europeia, na qual o rio era sempre visto como um sumidouro de dejetos, algo que foi feito para levar a sujeira para longe."
A afirmação é da especialista em recursos hídricos da ONG SOS Mata Atlântica Malu Ribeiro, mas é quase consenso entre pesquisadores do assunto e secretarias de Meio Ambiente de diversos Estados consultados pela Folha.
De acordo com esse levantamento feito pela reportagem, há pelo menos 13 rios de áreas de grande concentração urbana do país que estão em estado de atenção, ou, como diz a pesquisadora, "na UTI".
Outros, assim como o Tietê, já estão mortos mesmo, como é o caso do rio Belém, que fica em Curitiba, cidade que paradoxalmente ostenta o título de capital ecológica.
Na região Norte, a situação é amenizada devido ao grande volume dos rios, que acabam diluindo os efluentes e apresentando, em análises de qualidade da água, uma concentração baixa de poluentes químicos e materiais orgânicos.
No Nordeste, onde a coleta e o tratamento de esgoto muitas vezes não chega a 1% da população, a situação também é crítica. A região metropolitana de Recife, por exemplo, tem três rios com problemas: o Ipojuca, que recebe esgoto industrial e doméstico, e o Capibaribe e o Beberibe, que atravessam a cidade assim como o Pinheiros e o Tietê fazem em São Paulo carregando o esgoto de áreas tanto nobres quanto pobres da capital pernambucana.
O mesmo acontece em Belo Horizonte, Maceió, Fortaleza, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Belém, Cubatão e no Vale do Itajaí, em Santa Catarina, ou seja, não é só a capital paulista que massacra seus rios com seus dejetos, refugo industrial e lixo (veja quadro).
"De uma forma geral, 70% dos grandes rios brasileiros estão contaminados por esgoto doméstico. Os índices de saneamento básico e de tratamento de esgoto são baixíssimos. Nas capitais, a situação é bastante crítica, muito semelhante à situação de São Paulo. Em alguns lugares com índices menores, em outros, com índices maiores, principalmente nas áreas litorâneas e principalmente no Nordeste, onde a coleta e o tratamento de esgoto chegam a 1% ou menos", diz a pesquisadora Malu Ribeiro.

Problema nosso?
A ausência de redes de coleta e de estações de tratamento de esgoto no Brasil é um problema político, embora alguns dos entrevistados pela Folha associem a questão à falta de consciência ambiental da população. Segundo Clemente Coelho Junior, do Instituto BiomaBrasil, as administrações públicas investem pouco nesse setor porque "isso não dá voto". "As obras geralmente são subterrâneas, e os benefícios aparecem no longo prazo."
O secretário de Recursos Hídricos de Pernambuco, José Almir Cirilo, confirma a tese, embora não diga que há má vontade do poder público. "As pessoas têm que saber que os resultados disso demoram a aparecer. Em Londres, levou 30 anos para que o Tâmisa fosse despoluído."
Malu Ribeiro, do SOS Mata Atlântica, diz que é difícil conscientizar a população e cobrar melhorias no tratamento do esgoto. "Em pesquisas que realizamos, muita gente afirma não ter ideia de que o rio onde ela despeja o esgoto é o mesmo de onde se coleta a água para seu consumo. Mesmo em Londres, só houve essa consciência quando ficou impossível de se realizar sessões no Parlamento Britânico, tão grande era o mau cheiro do Tâmisa."


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