|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
País tem pelo menos 13 rios urbanos na UTI
A maioria está com a qualidade comprometida devido ao excesso de esgoto domiciliar e industrial
JAMES CIMINO
DA REPORTAGEM LOCAL
"Nossas cidades cresceram
de costas para os rios. É uma
questão cultural herdada da colonização europeia, na qual o
rio era sempre visto como um
sumidouro de dejetos, algo que
foi feito para levar a sujeira para longe."
A afirmação é da especialista
em recursos hídricos da ONG
SOS Mata Atlântica Malu Ribeiro, mas é quase consenso
entre pesquisadores do assunto
e secretarias de Meio Ambiente
de diversos Estados consultados pela Folha.
De acordo com esse levantamento feito pela reportagem,
há pelo menos 13 rios de áreas
de grande concentração urbana do país que estão em estado
de atenção, ou, como diz a pesquisadora, "na UTI".
Outros, assim como o Tietê,
já estão mortos mesmo, como é
o caso do rio Belém, que fica
em Curitiba, cidade que paradoxalmente ostenta o título de
capital ecológica.
Na região Norte, a situação é
amenizada devido ao grande
volume dos rios, que acabam
diluindo os efluentes e apresentando, em análises de qualidade da água, uma concentração baixa de poluentes químicos e materiais orgânicos.
No Nordeste, onde a coleta e
o tratamento de esgoto muitas
vezes não chega a 1% da população, a situação também é crítica. A região metropolitana de
Recife, por exemplo, tem três
rios com problemas: o Ipojuca,
que recebe esgoto industrial e
doméstico, e o Capibaribe e o
Beberibe, que atravessam a cidade assim como o Pinheiros e
o Tietê fazem em São Paulo
carregando o esgoto de áreas
tanto nobres quanto pobres da
capital pernambucana.
O mesmo acontece em Belo
Horizonte, Maceió, Fortaleza,
Rio de Janeiro, Porto Alegre,
Belém, Cubatão e no Vale do
Itajaí, em Santa Catarina, ou
seja, não é só a capital paulista
que massacra seus rios com
seus dejetos, refugo industrial
e lixo (veja quadro).
"De uma forma geral, 70%
dos grandes rios brasileiros estão contaminados por esgoto
doméstico. Os índices de saneamento básico e de tratamento de esgoto são baixíssimos. Nas capitais, a situação é
bastante crítica, muito semelhante à situação de São Paulo.
Em alguns lugares com índices
menores, em outros, com índices maiores, principalmente
nas áreas litorâneas e principalmente no Nordeste, onde a
coleta e o tratamento de esgoto
chegam a 1% ou menos", diz a
pesquisadora Malu Ribeiro.
Problema nosso?
A ausência de redes de coleta
e de estações de tratamento de
esgoto no Brasil é um problema
político, embora alguns dos entrevistados pela Folha associem a questão à falta de consciência ambiental da população. Segundo Clemente Coelho
Junior, do Instituto BiomaBrasil, as administrações públicas
investem pouco nesse setor
porque "isso não dá voto". "As
obras geralmente são subterrâneas, e os benefícios aparecem
no longo prazo."
O secretário de Recursos Hídricos de Pernambuco, José
Almir Cirilo, confirma a tese,
embora não diga que há má
vontade do poder público. "As
pessoas têm que saber que os
resultados disso demoram a
aparecer. Em Londres, levou
30 anos para que o Tâmisa fosse despoluído."
Malu Ribeiro, do SOS Mata
Atlântica, diz que é difícil conscientizar a população e cobrar
melhorias no tratamento do
esgoto. "Em pesquisas que realizamos, muita gente afirma
não ter ideia de que o rio onde
ela despeja o esgoto é o mesmo
de onde se coleta a água para
seu consumo. Mesmo em Londres, só houve essa consciência
quando ficou impossível de se
realizar sessões no Parlamento
Britânico, tão grande era o mau
cheiro do Tâmisa."
Texto Anterior: Rio que já uniu também separa casal paulista Próximo Texto: Frase Índice
|