São Paulo, terça-feira, 25 de janeiro de 2011

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Camadas paulistanas

Escavando o passado de três regiões de São Paulo para entender a expansão da cidade

DE SÃO PAULO

Gente já foi enforcada ao lado da atual praça da Liberdade, bem perto de onde hoje se come takoyakis, aqueles bolinhos de polvo.
Foi no começo do século 19. Nessa época, o centro de São Paulo tinha também o "beco da Cachaça", cujo nome dispensa maiores apresentações dos frequentadores. Mais sóbrias, senhoras lavavam roupa no rio Anhangabaú, hoje canalizado.
Mais para o final do mesmo século, leprosos eram atendidos onde hoje é a igreja da Consolação, e a coisa mais empolgante que acontecia na vizinha rua Augusta, uma trilha em meio à mata, eram burros puxando carroças até o "morro do Caaguaçú", onde hoje é a Paulista.
A própria Consolação era só uma estradinha que ia até a região de Pinheiros, que já foi repleta de índios (e de jesuítas tentando convertê-los, nem sempre conseguindo).
Ainda nos anos 1950, aliás, não havia muito além de mato e ruas sendo abertas do rio Pinheiros para oeste.
O grande motor da expansão geográfica que transformou todo esse mato em arranha-céus: São Paulo é terra estrangeira por natureza.
A quantidade colossal de migrantes fez com que a expansão populacional paulistana fosse impressionante, mesmo em comparação com outras grandes metrópoles.
Em 1900, a cidade tinha 240 mil habitantes. Nova York já tinha 3,5 milhões. Hoje, São Paulo tem 11,2 milhões. Nova York tem 8,3 milhões. A explicação para a ultrapassagem é que São Paulo teve duas grandes explosões imigratórias no período. A primeira foi do final do século 19 ao começo do 20.
Em 1920, por exemplo, a cidade tinha 580 mil habitantes. Cerca de 200 mil eram estrangeiros -35% do total.
Não há números claros sobre a quantidade de brasileiros vindos de outras regiões, mas, se for levado em conta que, 30 anos antes, em 1890, São Paulo tinha só 65 mil habitantes, torna-se nítido que paulistanos eram minoria.
A outra explosão foi entre 1960 e 1980, com os nordestinos. Estima-se que vieram ao menos 2,5 milhões.
As três regiões ao lado representam bem as diferenças entre São Paulo antes e depois dessas levas humanas.
Elas mostram a expansão urbana paulistana, especialmente no que se refere aos grandes prédios, que seguiram, com exceções, um vetor sudoeste -primeiro centro, depois Paulista, agora marginal Pinheiros e região.
(RICARDO MIOTO)

FOLHA.com

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