São Paulo, domingo, 27 de maio de 2001 |
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O EXTERMÍNIO Mais de 15 tribos correm risco de extinção no Brasil
O ritmo de crescimento da população indígena subiu a partir do fim dos anos 80, e hoje a média é de 3,5% ao ano -mais do que a média nacional, de 1,6% DO ENVIADO ESPECIAL AO AMAZONAS No último século, uma tribo brasileira foi extinta por ano em confrontos pela ocupação do país. O número é estimado -segundo antropólogos, provavelmente é maior. Hoje, existe um risco real de extinção de mais de 15 tribos, incluindo grupos de índios isolados. Nos anos 70, o antropólogo Darcy Ribeiro estimou que mais de 80 etnias desapareceram apenas na primeira metade do século 20, resultado do avanço da fronteira agrícola para o interior de São Paulo, Paraná e a região Centro-Oeste, a corrida da borracha na Amazônia e a migração da população para o interior. Em 50 anos, segundo o estudo de Darcy Ribeiro, a população indígena brasileira caiu de 1 milhão para 200 mil pessoas. Os conflitos só aumentaram nos anos 70 e 80, período de grandes projetos de colonização e investimento de infra-estrutura na Amazônia. Em Rondônia, o Estado que mais cresceu a partir dos anos 80, mais de dez tribos sumiram no século passado. Há registros policiais de que até os anos 90 fazendeiros organizavam expedições para massacrar índios e evitar que suas propriedades fossem desapropriadas pelo governo. Uma das tribos com data marcada para extinção é a dos jumas, no Amazonas. Há relatos sobre seus conflitos com ribeirinhos do rio Purus desde o século 19. O último, em 1964, terminou no massacre da tribo. Hoje restam apenas cinco jumas - um pai, suas três filhas e uma neta. Forçados pela Funai a mudar, estão se incorporando por casamento à tribo dos uru-eu-vau-vaus. Os estudos sobre população indígena são problemáticos. O IBGE não realiza censo sobre essa população e todos os dados são estimados. Calcula-se que nas reservas indígenas vivam entre 345 mil e 350 mil índios -0,2% da população brasileira. O ritmo de crescimento começou a subir a partir do final dos anos 80 e hoje a média é de 3,5% ao ano -mais do que a média nacional de 1,6%. São 216 tribos, 12 delas com menos de 38 indivíduos. Para efeito de comparação: em 1500, segundo estudos, viviam no território brasileiro entre 2 milhões e 4 milhões de índios de quase mil tribos diferentes. Mas faltam dados básicos sobre a população indígena. Existe um histórico de mortalidade indígena por doenças infecto-contagiosas, mas não se tem idéia do seu grau de morbidade atualmente. Também não se sabe ao certo quantos índios vivem fora das suas aldeias: os números variam de 100 mil a 190 mil, dependendo da fonte. "Na maioria dos casos, consegue-se uma cifra de população total por uma determinada área geográfica, sem caracterização por sexo, idade, número de mortes por idade, para citar as principais variedades geográficas. Por outro lado, a metodologia disponível é adequada para populações de grande porte, o que não é o caso da maior parte dos povos indígenas", analisou a antropóloga Marta Ribeiro, no livro "Índios do Brasil 1996/2000", da organização não-governamental Instituto Sócio Ambiental. No mesmo livro, a linguista e antropóloga Bruna Franchetto, do Museu Nacional, relaciona dados alarmantes sobre as 180 línguas indígenas. A maioria é falada por menos de 200 indivíduos. É um número de falantes tão pequeno que expõe a maioria das línguas indígenas brasileiras na faixa de risco de desaparecimento nos próximos anos. Texto Anterior: "Branco assim eu não tinha visto", diz índio Próximo Texto: "A gente era muito mais feliz no mato", afirma líder matis Índice |
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