São Paulo, terça-feira, 27 de agosto de 2002

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AUTORES

Poucos vivem da renda de livros

FREE-LANCE PARA A FOLHA

Prêmios literários, adaptações para cinema, televisão e teatro e sucesso de crítica não garantem aos escritores a sobrevivência a partir dos próprios livros.
No geral, as editoras pagam aos seus escritores 10% em direitos autorais das vendagens dos livros.
Lygia Fagundes Telles, 79, que o diga. Ela, que começou a escrever contos ainda adolescente e hoje ocupa a cadeira nš 16 da ABL (Academia Brasileira de Letras), após prêmios conquistados e muitos exemplares vendidos, afirma que seria impossível sobreviver só de seus livros.
"Tento compensar dignamente essa falha econômica, e a minha aposentadoria ridícula, fazendo outros trabalhos no campo das letras", declara.
Colega de Lygia, a escritora Hilda Hilst, 72, hoje fragilizada por uma isquemia cerebral, diz que nunca ganhou dinheiro com as suas obras. Ela conta que sobrevivia da ajuda dos pais.
"Ganhei um prêmio de R$ 70 mil [Moinho Santista, de melhor poesia]. Foi a primeira vez que vi dinheiro na vida", afirma.
O escritor Ignácio de Loyola Brandão, 66, não se queixa. "Se vivêssemos só de literatura seria uma alegria, mas, se não dá, também não é uma infelicidade."
Diretor de redação da revista "Vogue", ele diz que a situação não é diferente no exterior. Quando esteve na Alemanha, em 82, viu que os escritores complementavam a renda com radionovelas.
Para a gaúcha Lya Luft, 63, as pessoas lêem pouco, o que reflete na renda do escritor. Lya sobrevive como tradutora e com a renda do marido, Celso Pedro Luft, que já morreu. "Essa é a nossa realidade. A solução é de longo prazo: fazer com que as pessoas leiam."
O conterrâneo de Lya, Moacyr Scliar, 65, lembra que escritores cultuados não tiveram regalias. "Temos o raciocínio simplista de que vive de livros quem tem público e é bom. Muitos construíram seu público em gerações, como [Franz" Kafka, que em sua época não tinha leitores."
Scliar diz que consegue fazer as duas coisas que gosta -literatura e medicina- sacrificando o lazer.
O escritor ribeirão-pretano Luiz Puntel, 53, complementa a renda dele dando aulas como professor de literatura do ensino médio.
"O escritor no Brasil escreve quando tem tempo, roubando espaço do lazer e da família. Não compensa financeiramente, mas pela função social", afirma.

Exceções
Pelo menos dois autores brasileiros fogem à regra: os imortais Jorge Amado, já morto, e Paulo Coelho, 55. Um dos pilares do romance regionalista de 1930, Jorge Amado foi deputado federal, mas viveu exclusivamente dos direitos autorais dos mais de 20 milhões de livros vendidos.
Paulo Coelho -que não revela a porcentagem paga em royalties- mantém com o que ganha um instituto voltado a crianças e idosos carentes. "Fiz a única coisa que devia realmente ter feito: usar os livros para conhecer melhor a mim mesmo. Na medida em que me mantive fiel a mim mesmo, sem procurar fórmulas, os leitores continuaram sendo fiéis." (TATIANA UEMURA)


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