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AUTORES
Poucos vivem da renda de livros
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Prêmios literários, adaptações para cinema, televisão e teatro e sucesso de crítica não garantem aos escritores a sobrevivência a
partir dos próprios livros.
No geral, as editoras pagam aos
seus escritores 10% em direitos
autorais das vendagens dos livros.
Lygia Fagundes Telles, 79, que o
diga. Ela, que começou a escrever
contos ainda adolescente e hoje
ocupa a cadeira nš 16 da ABL
(Academia Brasileira de Letras),
após prêmios conquistados e
muitos exemplares vendidos,
afirma que seria impossível sobreviver só de seus livros.
"Tento compensar dignamente
essa falha econômica, e a minha
aposentadoria ridícula, fazendo
outros trabalhos no campo das letras", declara.
Colega de Lygia, a escritora Hilda Hilst, 72, hoje fragilizada por
uma isquemia cerebral, diz que
nunca ganhou dinheiro com as
suas obras. Ela conta que sobrevivia da ajuda dos pais.
"Ganhei um prêmio de R$ 70
mil [Moinho Santista, de melhor
poesia]. Foi a primeira vez que vi
dinheiro na vida", afirma.
O escritor Ignácio de Loyola
Brandão, 66, não se queixa. "Se vivêssemos só de literatura seria
uma alegria, mas, se não dá, também não é uma infelicidade."
Diretor de redação da revista
"Vogue", ele diz que a situação
não é diferente no exterior. Quando esteve na Alemanha, em 82,
viu que os escritores complementavam a renda com radionovelas.
Para a gaúcha Lya Luft, 63, as
pessoas lêem pouco, o que reflete
na renda do escritor. Lya sobrevive como tradutora e com a renda
do marido, Celso Pedro Luft, que
já morreu. "Essa é a nossa realidade. A solução é de longo prazo: fazer com que as pessoas leiam."
O conterrâneo de Lya, Moacyr
Scliar, 65, lembra que escritores
cultuados não tiveram regalias.
"Temos o raciocínio simplista de
que vive de livros quem tem público e é bom. Muitos construíram seu público em gerações, como [Franz" Kafka, que em sua
época não tinha leitores."
Scliar diz que consegue fazer as
duas coisas que gosta -literatura
e medicina- sacrificando o lazer.
O escritor ribeirão-pretano Luiz
Puntel, 53, complementa a renda
dele dando aulas como professor
de literatura do ensino médio.
"O escritor no Brasil escreve
quando tem tempo, roubando espaço do lazer e da família. Não
compensa financeiramente, mas
pela função social", afirma.
Exceções
Pelo menos dois autores brasileiros fogem à regra: os imortais
Jorge Amado, já morto, e Paulo
Coelho, 55. Um dos pilares do romance regionalista de 1930, Jorge
Amado foi deputado federal, mas
viveu exclusivamente dos direitos
autorais dos mais de 20 milhões
de livros vendidos.
Paulo Coelho -que não revela
a porcentagem paga em royalties- mantém com o que ganha
um instituto voltado a crianças e
idosos carentes. "Fiz a única coisa
que devia realmente ter feito: usar
os livros para conhecer melhor a
mim mesmo. Na medida em que
me mantive fiel a mim mesmo,
sem procurar fórmulas, os leitores continuaram sendo fiéis."
(TATIANA UEMURA)
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