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OPINIÃO
Transgênicos e biossegurança
LEILA MACEDO ODA
ESPECIAL PARA A FOLHA
Existe uma grande discussão no Brasil e exterior a
respeito dos riscos da biotecnologia na agricultura. Mas as razões
apresentadas até hoje não são
convincentes, já que os perigos
são apenas imaginários, sustentados por mitos, boatos e especulações, que alimentam todos os preconceitos contra o assunto.
Na verdade, os fatos têm mostrado que a biotecnologia traz
vantagens aos agricultores, ambiente e, consequentemente, à população em geral, já que os produtos estarão na mesa dos consumidores com menos agroquímicos.
Ilustro essa teoria com um exemplo recente, ocorrido na Europa
com o relatório da deputada belga
Kathleen Van Brempt, que recomenda a revisão da legislação sobre pesticidas. Um dos principais
objetivos do texto é reduzir os perigos do uso desses produtos para
o ambiente e para a saúde pública.
No caso dos organismos geneticamente modificados, o parlamento considerou uma alteração
nas leis em que reconhece "o potencial de redução da utilização de
pesticidas ou de promoção do uso
de tipos de herbicidas mais benignos pela introdução de variedades
vegetais geneticamente modificadas". Isso mostra que as autoridades européias confiam nos estudos realizados até hoje que demonstram que as plantações geneticamente modificadas são seguras para o consumo humano,
utilizando menos agroquímicos e
zelando pela qualidade do ambiente.
Poderia citar várias pesquisas
que apresentaram redução do uso
de agroquímicos nas lavouras
quando os agricultores cultivaram plantas geneticamente modificadas. Um exemplo é o trabalho
realizado pela equipe do especialista Jikun Huang, da Academia
de Ciências da China, que analisou o impacto do algodão BT, no
período de três anos, em 283 fazendas nas províncias de Hebei e
Shandong.
O estudo, apresentado no final
do ano passado, concluiu que as
fazendas de algodão transgênico
pesquisadas apresentaram uma
redução de 24 kg a 63 kg por hectare no uso de pesticidas.
Além disso, o trabalho mostrou
que a adoção da biotecnologia
agrícola na China tem levado a
significativo impacto positivo,
trazendo benefícios econômicos e
para a saúde, sobretudo de pequenos agricultores. Os estudos
apontaram, ainda, que os agricultores que utilizaram variedade de
algodão BT tiveram uma produtividade entre 6% a 10% maior do
que os cultivos de algodão convencional. Atualmente estão sendo desenvolvidas novas variedades de algodão BT, que darão
uma produtividade ainda superior às que atualmente estão no
campo.
Lembro que há um consenso internacional na comunidade científica de que as plantas geneticamente modificadas desenvolvidas
até agora não trazem malefícios
aos consumidores (a exemplo do
relatório sobre segurança alimentar desses produtos da Organização Mundial da Saúde). Aliás,
nunca houve um único caso de
complicações decorrentes do uso
de produtos derivados da biotecnologia. A soja geneticamente
modificada, por exemplo, foi introduzida no mercado norte-americano em 1996, sendo aprovada para o consumo humano em
muitos outros países. O produto
foi exaustivamente testado quanto à sua segurança, e concluiu-se
que é tão seguro e nutritivo quanto o convencional.
Vale ressaltar que o próprio governo brasileiro, ao editar a Medida Provisória número 113, de 26
de março de 2003, assinada pelo
presidente Lula e por mais nove
ministros de Estado, assumiu oficialmente a segurança da soja
transgênica, pois liberou a comercialização da safra de soja de 2003
até janeiro de 2004. Uma situação
um pouco estranha, já que não
existe o meio seguro ou a segurança até janeiro de 2004.
Leila Macedo Oda, doutora em Ciências
Biológicas, Microobiologia e Imunologia,
é presidente da Associação Nacional de
Biossegurança (Anbio) www.anbio.org.br
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