São Paulo, domingo, 28 de maio de 2006

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Moda

Não tiro o chapéu para a roupa

por Ronaldo Fraga

Sempre fui um aficionado pelos uniformes de futebol dos anos 40 e 50. Muito em virtude de ter crescido cultuando fotos e recortes de jornal onde "o grande Fraga", meu pai, goleiro do extinto Sete de Setembro de Belo Horizonte, aparecia disputando cada partida tanto quanto os torcedores fora do campo. O hoje nostálgico uniforme de gola pólo, com listras verticais desbotadas pelo tempo, era a cara da magia do futebol daquela época. Ao contrário da logo do fabricante, o que carregavam no peito era um orgulho apaixonado pelos símbolos do clube. Não se falava, claro, em construções tecnológicas, em materiais para auxílio da performance. No máximo um jogo de listras, a padronagem do diabo, era definida na Idade Média no intuito de confundir os adversários em campo. E quando o uniforme de futebol se encontra com a moda? Bom, volta e meia estilistas e marcas bebem desta referência. Vale lembrar a linda coleção de verão da marca V.ROM desfilada no estádio do Pacaembu no ano passado, onde clássicos foram relidos para deleite da platéia. De qualquer forma, o design dos uniformes, para tristeza dos puristas, têm sofrido alterações de Copa para Copa, como se fosse uma nova coleção de moda lançada a cada estação. Mudanças, talvez, para estimular o desejo de consumo esquizofrênico provocado pelo circo do futebol em época de Copa. E como os preços não são doces (entre R$ 150,00 a R$ 300,00 para produtos de primeira linha), haja tecnologia e recortes para rejuvenescer os velhos clássicos. Nesta estação, ops, nesta Copa, o Brasil estréia um modelo simples com poucos detalhes. Design inspirado no modelo da primeira camisa usada na Copa de 1958. Sai de cena a peça com excesso de recortes, estilo que se repete nos uniformes de Equador, Suécia, Togo e Ucrânia. Em campo, a única diferença será a logo do fabricante, ou em alguns casos nem isto. A Itália, que já teve uniforme desenhado por Giorgio Armani e sempre vetou a marca do fabricante no uniforme de jogo, estréia novo modelo com a logo da Puma no peito e faixa azul escura nas costas. Fora isto, a mítica "camisa azzurra" continua a mesma. E, agora, com detalhes dourados. A Inglaterra, que marcou estilo com camisas sóbrias e clássicas, com poucos detalhes azuis ou vermelhos no fundo branco, desta vez busca modernidade com uma marcante cruz vermelha bordada no ombro direito sobre fundo branco, uma referência moderna da bandeira inglesa. A Alemanha preserva o desenho tradicional alvinegro, com traços modernos em vermelho e amarelo. A novidade, a pedido do técnico Klinsmann, fica na camisa reserva: agora, fundo vermelho. Mas Copa também é pretexto para conhecer e comprar camisas de seleções menos tradicionais. Neste ponto, aposto no sucesso do uniforme da Croácia. Quadriculado de vermelho e branco, remetendo aos uniformes dos super-heróis de revista em quadrinhos, promete dividir opiniões. Em uma Copa onde o design "clean", asséptico e "chic" deve imperar, os croatas prometem -pelo menos no quesito roupa- trazer o humor que todo circo merece.


RONALDO FRAGA, 37, é estilista

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