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Moda
Não tiro o chapéu para a roupa
por Ronaldo Fraga
Sempre fui um aficionado
pelos uniformes de futebol dos anos 40 e 50.
Muito em virtude de ter crescido cultuando fotos e recortes
de jornal onde "o grande Fraga", meu pai, goleiro do extinto
Sete de Setembro de Belo Horizonte, aparecia disputando cada partida tanto quanto os torcedores fora do campo.
O hoje nostálgico uniforme
de gola pólo, com listras verticais desbotadas pelo tempo,
era a cara da magia do futebol
daquela época. Ao contrário da
logo do fabricante, o que carregavam no peito era um orgulho
apaixonado pelos símbolos do
clube. Não se falava, claro, em
construções tecnológicas, em
materiais para auxílio da performance. No máximo um jogo
de listras, a padronagem do
diabo, era definida na Idade
Média no intuito de confundir
os adversários em campo.
E quando o uniforme de futebol se encontra com a moda?
Bom, volta e meia estilistas e
marcas bebem desta referência. Vale lembrar a linda coleção de verão da marca V.ROM
desfilada no estádio do Pacaembu no ano passado, onde
clássicos foram relidos para deleite da platéia.
De qualquer forma, o design
dos uniformes, para tristeza
dos puristas, têm sofrido alterações de Copa para Copa, como se fosse uma nova coleção
de moda lançada a cada estação. Mudanças, talvez, para estimular o desejo de consumo
esquizofrênico provocado pelo
circo do futebol em época de
Copa. E como os preços não
são doces (entre R$ 150,00 a
R$ 300,00 para produtos de
primeira linha), haja tecnologia e recortes para rejuvenescer os velhos clássicos.
Nesta estação, ops, nesta Copa, o Brasil estréia um modelo
simples com poucos detalhes.
Design inspirado no modelo da
primeira camisa usada na Copa
de 1958. Sai de cena a peça com
excesso de recortes, estilo que
se repete nos uniformes de
Equador, Suécia, Togo e Ucrânia. Em campo, a única diferença será a logo do fabricante,
ou em alguns casos nem isto.
A Itália, que já teve uniforme
desenhado por Giorgio Armani
e sempre vetou a marca do fabricante no uniforme de jogo,
estréia novo modelo com a logo
da Puma no peito e faixa azul
escura nas costas. Fora isto, a
mítica "camisa azzurra" continua a mesma. E, agora, com detalhes dourados.
A Inglaterra, que marcou estilo com camisas sóbrias e clássicas, com poucos detalhes
azuis ou vermelhos no fundo
branco, desta vez busca modernidade com uma marcante
cruz vermelha bordada no ombro direito sobre fundo branco,
uma referência moderna da
bandeira inglesa. A Alemanha
preserva o desenho tradicional
alvinegro, com traços modernos em vermelho e amarelo. A
novidade, a pedido do técnico
Klinsmann, fica na camisa reserva: agora, fundo vermelho.
Mas Copa também é pretexto para conhecer e comprar camisas de seleções menos tradicionais. Neste ponto, aposto no
sucesso do uniforme da Croácia. Quadriculado de vermelho
e branco, remetendo aos uniformes dos super-heróis de revista em quadrinhos, promete
dividir opiniões. Em uma Copa
onde o design "clean", asséptico e "chic" deve imperar, os
croatas prometem -pelo menos no quesito roupa- trazer o
humor que todo circo merece.
RONALDO FRAGA, 37, é estilista
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