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Executivo define agenda legislativa do Congresso
Sérgio Lima - 14.jun.05/Folha Imagem
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O ACUSADOR
O escândalo do mensalão estourou no dia 6 de junho de 2005, quando a Folha publicou entrevista na qual o então deputado Roberto Jefferson (PTB) acusava o governo de pagar deputados para ter apoio no Congresso. Jefferson foi o primeiro deputado a ser cassado na esteira do escândalo, no dia 14 de setembro, por 313 votos a 156
Maioria dos projetos de lei aprovados desde a redemocratização, em 1985, são
de iniciativa do Planalto, que ainda tem o poder de editar medidas provisórias
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A análise dos principais projetos aprovados pelo Congresso
Nacional desde a redemocratização do país, em 1985, mostra
que o Executivo manteve durante todo esse período a primazia na definição do que deputados e senadores debateriam e votariam.
Dos projetos sancionados ou
promulgados, 935 são de autoria do Palácio do Planalto, contra 721 elaborados pelos congressistas.
A preponderância é ainda
maior quando são computadas
as medidas provisórias, atos
com força de lei editados pelo
presidente da República. Foram 837 desde 1985.
Os números dos projetos
sancionados e promulgados
desde o governo José Sarney
(1985-1990) estão em relatório
da presidência do Senado, que
não inclui as propostas orçamentárias, também de iniciativa do Executivo e que se contam às centenas.
De todos os governos desde
1985, apenas o de Fernando
Henrique Cardoso (1995-2002) registra menos projetos
de sua autoria aprovados do
que os elaborados por congressistas -260 contra 308. Mesmo assim, não se pode falar em
predominância do Legislativo,
já que FHC enviou 263 MPs para o Congresso, fora as reedições e as leis orçamentárias.
Sob Luiz Inácio Lula da Silva,
a preponderância se fortaleceu
-foram 166 projetos aprovados e 218 medidas provisórias,
até 25 de agosto, contra 106
textos de autoria legislativa.
Redução de férias
Iniciativas que brotam exclusivamente da vontade dos parlamentares são exceção. Os casos recentes incluem a aprovação da redução das férias de deputados e senadores, o fim de
pagamento por convocação extraordinária, o fim do voto secreto (esse ainda tramitando) e
a criação de CPIs, quase sempre em discordância com a vontade do Executivo.
É importante ressaltar que,
normalmente, os projetos do
Executivo são alterados durante a tramitação no Congresso.
Constituição de 88
Um dos principais trabalhos
que analisam a relação entre o
Palácio do Planalto e o Congresso é o livro "Executivo e Legislativo na Nova Ordem Constitucional" (FGV, 1999), dos
cientistas políticos Argelina
Cheibub Figueiredo e Fernando Limongi. Os dois falam em
"continuidade legal entre o período autoritário e o atual no
que diz respeito às normas que
regulam a relação entre os Poderes Executivo e Legislativo",
o que se contraporia ao período
democrático pré-1964.
"Sob a Constituição de 1988,
o Executivo se constituiu no
principal legislador. (...) Os mecanismos constitucionais que
ampliam os poderes legislativos do presidente -ou seja, a
extensão da exclusividade de
iniciativa, o poder de editar
MPs com força de lei e a faculdade de solicitar urgência para
os seus projetos-, estabelecidos pelas reformas militares e
ratificados pela Constituição
de 1988, não só lhe permitem
definir a agenda legislativa mas
o colocam em posição estratégica para a aprovação de seus
projetos", diz trecho do livro.
Os cientistas políticos e os
trabalhos consultados pela Folha são unânimes em apontar a
preponderância do Planalto.
"Nos Estados Unidos, por
exemplo, o presidente não pode apresentar projeto de lei, exclusividade dos deputados e senadores. O nosso presidencialismo é mais imperial", diz David Fleischer, professor da UnB
(Universidade de Brasília).
Medidas provisórias
Coordenador do Centro de
Estudos do Legislativo do Departamento de Ciência Política
da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), Carlos Ranulfo Melo afirma que, com exceção dos Estados Unidos, "o
controle da agenda pelo Executivo não é "privilégio" do Brasil,
mas uma característica das democracias contemporâneas,
sejam parlamentaristas ou presidencialistas".
Ele reforça a constatação de
que nem mesmo sob Fernando
Henrique Cardoso houve preponderância do Congresso, tomando como base a tese de
doutorado da professora de
Ciência Política da UFMG
Magna Inácio. No estudo, ela
inclui as leis orçamentárias, o
que amplia bastante a diferença pró-Executivo.
A divisão do número de MPs
editadas mostra que Itamar
Franco (5,3 MPs por mês, em
média) e Lula (5 MPs por mês)
foram os presidentes que, proporcionalmente, mais recorreram à medida. "Quanto mais
fraco o Executivo, mais ele depende de MPs", analisa o professor de Ciência Política da
UnB (Universidade de Brasília)
Paulo Kramer.
O presidente da República
conta ainda com outro importante instrumento para fazer
valer sua posição: o veto, parcial ou total, aos projetos aprovados no Congresso. Sua decisão só é derrubada com o voto,
secreto, de pelo menos metade
dos deputados e senadores.
Outro mecanismo que fortalece essa situação é o poder que
os líderes partidários exercem
sobre suas bancadas, o que dificulta em muito ações independentes e isoladas de deputados
e senadores.
(RANIER BRAGON E FERNANDA KRAKOVICS)
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