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MÃO NA BUZINA
Reclama mais do trânsito quem chega mais rápido
Moradores dos distritos que acham o trânsito o principal problema são os que levam menos tempo para chegar ao trabalho
Henrique Marenza/Folha Imagem
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Trânsito carregado na marginal Pinheiros; no Itaim Bibi, 30% consideram trânsito o principal problema, enquanto no Grajaú, só 9%
RICARDO SANGIOVANNI
DA REPORTAGEM LOCAL
JOÃO PEQUENO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Quem gasta menos tempo
para chegar ao trabalho é quem
mais reclama do trânsito. Já
quem mora longe e leva mais
tempo para se deslocar não
considera o trânsito um problema tão grave, apontam os
dados da pesquisa realizada pelo instituto Datafolha.
Da janela de seu apartamento na rua Pedroso Alvarenga,
no Itaim Bibi (zona oeste), a desenhista Mônica Freitas, 50, reclama do trânsito. "Não tem
uma horinha que eu olhe e veja
que os carros deram uma folga", diz ela, que evita sair com o
automóvel há um ano, desde
que se mudou para o bairro.
A média de tempo gasto para
ir de casa até o trabalho por
moradores do Itaim Bibi -distrito que mais reclama do trânsito- é de 26,2 minutos. Menos
da metade dos 61,9 minutos
que gasta o morador do Grajaú,
no extremo sul. Mas, mesmo
assim, no Itaim Bibi, trânsito é
o principal problema para 30%
dos moradores -no Grajaú, só
9% se incomodam com isso.
Outros distritos centrais, como Vila Leopoldina (média de
30 minutos) e Jardim Paulista
(25,4), completam a lista dos
incomodados com o trânsito
(30% e 27%, respectivamente).
"Só saio de carro para levar
minha filha à faculdade, na Liberdade. Levo mais de uma hora se sair às 18h. Nota zero [para
o trânsito]", afirma Mônica.
Já a vendedora Ana Cláudia
de Jesus, 22, tinha outra preocupação quando morava no
Grajaú, a 25 km do centro. Era
tão longe que ela mentia o endereço em entrevistas de emprego, com medo de que os possíveis patrões associassem a
distância a futuros atrasos e desistissem de contratá-la.
O consultor de transportes,
urbanista e ex-técnico da CET
(Companhia de Engenharia de
Tráfego) Flamínio Fichmann
diz que, embora perca menos
tempo, o morador da região
central está "mais exposto" ao
trânsito -os carros "tendem a
se espalhar dos corredores
principais para vias menores" e
o fluxo é intenso durante todo o
dia. Na periferia, diz Fichmann,
o trânsito não se espalha tanto,
e os congestionamentos se concentram nos horários de pico.
"O resultado [da pesquisa] é
coerente, já que estamos falando da percepção do morador."
A incidência de reclamações
do trânsito, porém, nem sempre corresponde à nota dada
pelos moradores à qualidade do
transporte coletivo no bairro.
Em Parelheiros, embora só 3%
considerem o trânsito um problema, o transporte coletivo
ganhou nota 4,7. Já na Vila
Leopoldina, onde o trânsito é
problema para 30%, o transporte coletivo tirou 7,5.
O distrito de Moema (zona
sul) é recordista no uso de carro para trabalhar (45%) e está
entre os que menos usam o ônibus (16%), apesar do corredor
para coletivos que corta o bairro pela avenida Ibirapuera.
A média de tempo que os moradores de Moema demoram
para chegar ao trabalho é de
25,8 minutos, uma das menores da cidade. A nota para o
transporte coletivo pouco usado no distrito é de 5,9.
Em Anhangüera (noroeste),
51% usam ônibus para ir trabalhar (maior percentual da cidade) e a média de tempo casa/
trabalho é de 39 minutos. A nota para o transporte coletivo é
6,3. Para o engenheiro aposentado e psicólogo Ion de Freitas,
criador do curso de engenharia
de transportes da USP, a diferença de percepção tem também explicação qualitativa.
"Para quem mora mal há
problemas mais graves que o
trânsito. Quem mora no Itaim
Bibi tem tudo, então o que "pega" são esses minutos de tráfego." Nos quatro bairros da periferia onde o trânsito é considerado problema menor, a principal reclamação é de buracos na
calçada e no asfalto. "Não está
ligado a tempo, mas a conforto
no transporte", diz Freitas.
Para o professor de engenharia de transportes da USP Jaime Waisman, o tempo de quem
mora no centro [e tem maiores
renda e escolaridade] é mais
caro que o de quem mora na periferia. "Perder tempo incomoda mais o empresário que o
operário", diz ele, que considera o morador da periferia "menos crítico" e mais "conformado" com serviços ruins.
Freitas discorda. "Raiva,
frustração, incômodo são sentimentos, não passam pela razão. O homem é sempre homem, independentemente de escolaridade", afirma.
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