São Paulo, domingo, 28 de setembro de 2008

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Marsilac é o mais pobre e o menos urbanizado

DA REPORTAGEM LOCAL

O tempo passa diferente em Marsilac. A 45 km da praça da Sé, Marsilac é o distrito com os piores indicadores econômicos de São Paulo: tem a maior taxa de desempregados e trabalhadores informais e o maior percentual de moradores que vivem com menos de dois salários mínimos por mês.
Problemas não faltam na região que no papel é urbana, mas, na prática, rural. Água, só de poço. Rua esburacada é um luxo, já que a regra é não ter asfalto. Conseguir consulta com um médico é demorado. Lazer, só quando a comunidade faz festa. Mas parece que ninguém liga. "É um lugarzinho sossegado", diz Tarzan, como é conhecido Jailton dos Santos, "mais ou menos 40 anos".
Tarzan ganha um salário mínimo e uma cesta básica por mês, o que sustenta ele, a mulher e os três filhos. Passa o tempo abrindo picadas no mato e bolindo com tartarugas das nascentes. "Nosso relógio biológico é diferente, sim", diz Maria Lúcia Cirillo, presidente da associação dos moradores do bairro de Engenheiro Marsilac.
Não fosse o trem de hora em hora levando e trazendo carga de Santos, Marsilac seria o paraíso para seus moradores. Paulo Rodrigues, 50, nasceu ali, trabalha de caseiro e nem cogita se mudar. Ele vive com a mulher e uma filha e ganha salário mínimo. Acorda às 4h e dorme antes das 21h. Quando dá, vai à "vila" (centro do bairro) buscar a filha na escola. Espera dar a hora na praça, conversando.
Quase todo mundo tem história de violência para contar, de seqüestro a roubo em chácara. Mas medo, quase ninguém tem. Nem de andar à noite pelas ruas escuras. Entre os pontos positivos, estão a qualidade do ar, o contato com a natureza (de vez em quando aparece onça ou jibóia) e a vizinhança. Tudo se resume ao "sossego", coisa que o paulistano médio não sabe bem o que é. (ES)


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