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FILANTROPIA
Segundo consultores, nova perspectiva, introduzida por grandes companhias, é estimular funcionários a realizar ações voluntárias
Empresas trocam doações por trabalho social de longo prazo
MIRELLA DOMENICH
FREE-LANCE PARA A FOLHA
As empresas estão deixando de
praticar somente a filantropia paliativa para atuar em ações de impacto social de longo prazo.
Os estudiosos afirmam que esse
é um fenômeno global, disseminado pelas multinacionais.
"As empresas estão percebendo
que podem proporcionar à sociedade uma contribuição maior do
que apenas doar dinheiro, comida ou roupas", diz a consultora de
voluntariado empresarial, Ruth
Goldberg.
"Elas devem promover o desenvolvimento social, compartilhando com as entidades seu conhecimento em gestão, que é o que as
empresas sabem fazer", afirma.
Para que as ações sejam efetivas,
Ruth diz que as empresas não devem só fazer doações, mas precisam estimular o trabalho voluntário entre funcionários.
A estratégia do BankBoston,
por exemplo, acompanha essa
tendência. Desde a criação da
Fundação BankBoston, em 1999,
o banco deixou de apenas fazer
doações para mobilizar seu quadro de funcionários em prol de
ações sociais.
"Há três anos desenvolvemos
uma gincana chamada rali social,
que mobiliza 3.900 dos nossos
4.000 funcionários", diz a superintendente da fundação, Sonia
Consiglio.
A gincana tem como objetivo
chamar a atenção do maior número de pessoas para o voluntariado e formar multiplicadores de
conhecimento. Nem por isso o
banco deixa de incentivar ações
filantrópicas, como o apoio às
crianças da cidade de Russas, no
interior do Ceará.
Em 2000, foram descontados R$
25 da folha de pagamento de cada
funcionário que colaborava com
o projeto. O dinheiro foi utilizado
para custear o material didático e
o transporte escolar.
"Nossa atitude não foi paternalista porque não adotamos as
crianças. Apenas contribuímos financeiramente para que elas pudessem voltar a estudar", diz Sonia. Hoje a fundação ajuda a gerenciar o projeto.
Segundo o presidente do grupo
Yázigi Internexus e do conselho
do Instituto Ethos de Empresas e
Responsabilidade Social, Ricardo
Young, é cada vez maior o número de empresas que, além de contribuírem financeiramente com
as entidades, elaboram projetos
de impacto duradouro, como ensinar técnicas administrativas.
Na prática, segundo dados da
pesquisa Ação Social das Empresas, realizada pelo Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada), as empresas continuam contribuindo mais com recursos financeiros do que por meio de atividades voluntárias de seus funcionários.
No Sudeste, por exemplo, das
300 mil empresas que realizam
ações sociais para a comunidade,
57% desenvolvem projetos assistencialistas e apenas 36% têm funcionários envolvidos em atividades voluntárias.
O diretor do site www.voluntarios.com.br e conselheiro do
Ethos, Stephen Kanitz, diz acreditar que a filantropia, em muitos
casos, é mais legítima do que as
ações de longo prazo porque não
tem relação com os negócios da
empresa."Sou mais a favor do assistencialismo do que a criação de
uma ONG como braço social da
empresa, porque não cria conflito
de interesses."
Young, também do Ethos, é menos radical. "A filantropia é importante em questões imediatas,
mas está diretamente ligada ao lucro da empresa, o que a torna imprevisível", diz.
O grupo Orsa, por exemplo,
destina 1% de seu faturamento
bruto anual para atividades sociais, divididas entre filantropia e
ações de engajamento dos funcionários. "Temos de atuar conforme as possibilidades do grupo",
diz o presidente do Orsa, Sergio
Amoroso.
O consultor de cidadania empresarial Antonio Carlos Martinelli recomenda que as empresas
diminuam aos poucos as doações
para que as entidades tornem-se
auto-suficientes.
Isso, no entanto, não impede
que elas continuem contribuindo
com recursos financeiros e materiais. A HP Brasil, por exemplo,
destina 17% dos R$ 800 mil que
aplica por ano em ações sociais
para campanhas de apoio e viabilização de projetos desenvolvidos
por seus funcionários voluntários. Há três anos, a empresa somente fazia doações.
"Nosso objetivo é continuar
contribuindo com a sociedade,
mas chamando a atenção dos
nossos funcionários para isso",
diz o diretor de assuntos corporativos da HP Brasil, Gilberto Galan.
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