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PRÉ-MINISTÉRIO
Mercadante disputa vaga; ao votar, elogiou sugestão de Malan de indicar agora o novo presidente do BC
Cargos na transição abrem primeira crise
KENNEDY ALENCAR
EM SÃO PAULO
Eleito senador com mais de 10
milhões de votos, o deputado federal Aloizio Mercadante (SP) é o
pivô da primeira crise na formação da equipe de transição e do
ministério do presidente eleito
Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
A Folha apurou que Mercadante disputa espaço na área econômica com Antônio Palocci, coordenador de programa de governo
de Lula e nome que cresceu muito
no PT e fora do partido durante a
campanha, e também com Guido
Mantega, principal assessor econômico de presidente eleito.
Mercadante nega haver disputa
e desentendimentos. Disse ontem
à noite já ter conversado com Lula
sobre a possibilidade "teórica" de
participar do governo. Mas teria
reiterado que não poderia, de início, entregar a um suplente seu
novo mandato parlamentar. "Seria um desrespeito para todos os
que votaram em mim", disse.
Por vezes identificado como
principal porta-voz econômico
do PT, ele perdeu parte desse poder para Palocci e Mantega.
No processo eleitoral, Lula e o
presidente do PT, o deputado federal reeleito José Dirceu (SP), ficaram contrariados com declarações de Mercadante não previamente combinadas com os dois.
Alguns contatos de Mercadante
com banqueiros e autoridades
públicas também foram feitos à
revelia da cúpula. A principal crítica é a de que ele faz um jogo mais
individual do que partidário.
Mais: a cúpula petista identificou o dedo de Mercadante na volta de rumores que o dão como cotado para o Ministério da Fazenda, o que nem de longe está nos
planos de Lula.
Como Mercadante sabe que não
será ministro da Fazenda, a direção petista acha que os novos rumores teriam por objetivo cavar
um "crédito" para que ele ganhe a
pasta das Relações Exteriores ou
receba apoio para tentar presidir
o Senado a partir de 2003.
Ontem pela manhã, ao votar, o
senador eleito já havia declarado
que preferia permanecer no Congresso, em nome de seus
10.491.345 eleitores. Discorreu
mesmo assim com familiaridade
sobre a agenda econômica da
equipe de transição.
Elogiou a sugestão de Pedro
Malan, de indicar já agora o novo
presidente do Banco Central, que
seria assim sabatinado pelo Senado e poderia assumir na primeira
semana de janeiro, e fez considerações sobre o novo salário mínimo: ele será maior que os R$ 211
previstos pela proposta de Orçamento que FHC enviou ao Congresso. Mas tudo ainda depende
do câmbio e da taxa de juros até o
final do ano, que afetam a dívida
pública, a inflação e a taxa de crescimento a partir da qual a União
vai fazer a projeção de quanto deve arrecadar em impostos.
Equipe de transição
Até ontem, Mercadante articulava a fim de obter uma vaga na
equipe de transição, usando como argumentos o cacife eleitoral,
o conhecimento do Congresso e
as boas relações que tem em Brasília. O problema, para a cúpula
petista, é que a entrada de Mercadante na equipe de transição possa gerar conflitos de imediato.
Isto é, poderia haver uma superposição de atribuições entre ele e
Palocci, autorizado por Lula para
fazer as sondagens e contatos oficiais com empresários, banqueiros e economistas a respeito de
participação na equipe de transição e no ministério.
O outro nome autorizado a fazer esse tipo de trabalho, com
mais foco na grande articulação
política, é o de José Dirceu, que será o chefe da transição, ocupando
o cargo de ministro extraordinário criado pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pago
com dinheiro público.
No plano inicial, Dirceu comandaria a transição e faria a grande
articulação política ao lado de Lula. O segundo escalão da equipe
teria Palocci, pela área econômica, auxiliado por empresários e
técnicos. Participariam ainda
Luiz Gushiken, no papel de executivo do grupo de 51 funcionários que deverá trabalhar em Brasília, e Luiz Dulci, com as atribuições de fazer a interface entre a
equipe e o PT e aliados.
Ao lado de Dirceu e Palocci,
Gushiken e Dulci formavam a cúpula da campanha de Lula. Mercadante, que disputava a eleição,
ficou fora, mas agora tenta recuperar o espaço de principal porta-voz econômico do PT.
O fato, porém, é que Palocci e
Mantega, pela dinâmica da campanha, assumiram esse papel de
modo mais satisfatório, na avaliação de Lula. O presidente eleito
costuma dizer que Mercadante
tem um perfil desagregador, gerando arestas entre os economistas do partido. Palocci, ao contrário, é hábil articulador.
Além de atritos com Palocci,
Mercadante também tem tido dificuldades com Mantega, encarregado dos contatos com instituições como o FMI e o Banco Mundial, com o segundo escalão de
instituições financeiras e com
universidades.
Mantega deverá participar nas
próximas semanas das reuniões
com a primeira missão do FMI
que virá ao Brasil para a revisão
dos termos do acordo recém-fechado com o Fundo por FHC e já
respaldado por Lula.
Colaborou JOÃO BATISTA NATALI, da Reportagem Local
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