|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
BNDES não deve emprestar a estrangeiros, diz vice
DO EDITOR DO PAINEL S.A.
Se depender do senador e vice-presidente eleito José Alencar
(PL), 71, três filhos e cinco netos, o
BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) terá papel fundamental no
novo governo. Entre outras
idéias, ele propõe que o BNDES
não conceda mais financiamentos para empresas estrangeiras.
"O BNDES tem que abrir um leque para o Brasil", diz.
Ele defende que o BNDES facilite o acesso às pequenas e médias
empresas aos financiamentos.
Sobre seu papel na campanha,
Alencar diz que o que procurou
fazer foi "não atrapalhar o Lula".
(GUILHERME BARROS)
Folha - Qual será seu papel como
vice?
José Alencar - O papel do vice-presidente está previsto na Constituição, que é o de substituir o
presidente numa eventualidade.
Eu acredito até que vá substituir
muito pouco. O Lula vai viajar
muito, mas para o interior do Brasil, para o semi-árido, o Vale do
Jequitinhonha... Por isso, terei
muito pouco trabalho de substituí-lo. Agora, a Constituição também diz que o vice-presidente pode exercer alguma missão especial, se convocado pelo titular.
Folha - Se convocado, o sr. poderá
ter algum papel além de vice?
Alencar - Só a prática pode dizer.
Sempre estarei disponível para
atender aos interesses nacionais.
Folha - O PL pode ter algum representante no ministério?
Alencar - O Lula não tem preconceito com relação a partido. O
PL é um dos partidos que compõem da aliança nacional, junto
com o PMN, o PC do B e o PCB. A
partir do segundo turno, houve
também outros apoios, como do
PSB, PPS, PDT... Outros partidos
também deram apoio no segundo
turno. Em Minas, por exemplo, o
PMDB deu apoio incondicional
ao Lula, como na Paraíba e em
Santa Catarina. Lula conseguiu
construir um consenso nacional.
Num país como o Brasil, que tem
30 partidos, nenhum vai obter
uma vitória eleitoral de forma isolada. Mesmo que obtivesse, teria
grandes dificuldades de governar.
Folha - Os tucanos também poderão participar do governo?
Alencar - Não há nenhum preconceito contra o PSDB. Apesar
de se posicionar em sentido contrário, é possível que, diante das
propostas do Lula, ele venha a dar
apoio ao Lula.
Folha - Para o sr., qual deverá ser
a grande marca do governo Lula?
Alencar - Em primeiro lugar, o
Lula prima pela sensibilidade social, que é inerente à personalidade dele. Também possui um arraigado sentimento nacional. E é
uma figura admirável do ponto de
vista de intransigência em relação
à probidade. Não há um arranhão
moral ou ético contra ele. É sensível às questões ligadas às regiões
menos favorecidas, já que nasceu
numa delas. E também ao tratamento desigual dado às crianças
nas escolas, porque foi uma das
que passaram por isso.
Folha - Como o sr. imagina o Banco Central no governo Lula?
Alencar - Tem de haver uma
reestruturação das prioridades. A
única meta sobre a qual se fala no
Brasil hoje é a meta de inflação. É
óbvio que isso é importante. O
BC, no governo Lula, será o guardião da moeda, com absoluto rigor no controle da inflação, mas
sempre consciente de que essa é
uma atividade meio, não uma atividade fim. O fim, no governo Lula, será a retomada do crescimento, para que possam ser alcançados os objetivos de gerar empregos e aumentar as exportações.
Só assim poderemos baixar as
taxas de juros, ainda que lenta e
gradualmente. Quanto à dívida,
Lula tem dito com todas as letras:
ela é do Brasil, não do FHC. Se é
do Brasil, terá de ser honrada.
Uma coisa que deve ser dita, no
entanto, é que, continuando nesse
rumo, de contrair empréstimos
sem a contrapartida de crescimento da economia, vamos chegar a uma situação de insolvência.
Folha - Como assim?
Alencar- A dívida cresce muito
em relação ao PIB e, da forma como está, pode até ultrapassar o
PIB. O ministro da Fazenda fala
que a Itália deve 100% do PIB. Só
que a dívida italiana é rolada com
uma taxa de juros cinco vezes menor do que a nossa. E a longo prazo, que não é o caso da nossa.
Temos obtido um superávit,
mas adjetivado de primário. Ele é
adjetivado porque não é superávit. O déficit construído apenas
pelos juros atinge cerca de 10% do
PIB. Já o superávit é de menos de
4% do PIB. Ou seja, o superávit
primário cobre apenas 40% do
déficit. Os outros 60% se acoplam
à dívida e isso faz com que ela
cresça como bola de neve.
A banca internacional sabe, no
entanto, que os 3,75% do PIB de
superávit primário são razoáveis.
Se ele for usado para amortização
de juros e compromissos da dívida, já está bom, e aí eles podem
nos dar crédito. O que temos de
aprender é a nos defendermos
disso. E para isso temos de voltar
a crescer, valorizar a produção.
Para isso, precisamos fazer com
que o crédito de longo prazo e a
custo compatível também estimule as pequenas e médias empresas. Elas são empresas de
mão-de-obra intensiva. Temos
de levar o desenvolvimento para
a pequena empresa.
Folha - O sr. acha que o BNDES
não cumpre esse papel?
Alencar - O BNDES tem condições para isso, mas ele tem que
abrir um leque para o Brasil. Em
vez do projeto sofisticado, que
uma empresa pequena não tem
condições de fazer, o BNDES pode passar a exigir um questionário que qualquer pequeno empresário seja capaz de preencher, até
de forma manuscrita. O empresário informará tudo nesse cadastro. Isso não é o Lula que fala. Trata-se de uma proposta minha.
Folha - O sr. é contra o BNDES emprestar às empresas de fora?
Alencar - O BNDES não nasceu
para isso. A meu ver, não deveria
mais conceder empréstimos estrangeiros. Por que precisamos
emprestar dinheiro para grandes
empresas estrangeiras virem se
instalar aqui? Isso não é xenofobia, e sim mudança de foco.
Folha -O sr. acha que sua entrada
na campanha do Lula foi decisiva?
Alencar -Eu tenho procurado
não atrapalhar o Lula. O prestígio
do Lula é muito grande. Ele é um
gigante, uma figura predestinada.
Ele tem um sopro divino que o fará um grande presidente.
Texto Anterior: Tudo em um social: PT quer dinheiro de cidades em "fundão" social Próximo Texto: Facilitar acesso a crédito do banco será prioridade Índice
|