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CAMPO
Parte do movimento fala em "programa mínimo" no início, mas ala radical diz que latifundiário é "inimigo"
MST já se divide entre trégua e invasões
JOSÉ MASCHIO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM LONDRINA
O MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), um
dos grupos sociais mais ativos e
polêmicos do país, vai apresentar
um "programa mínimo" ao presidente eleito Luiz Inácio Lula da
Silva com metas de assentamento
e de mudanças na política agrária.
Identificado com o PT desde
sua origem, o MST oferece em
troca uma trégua em suas invasões de terra no começo do governo Lula -embora ninguém arrisque falar em prazos.
O programa será elaborado em
encontro no dia 26 de novembro
que reunirá o MST e entidades como a CPT (Comissão Pastoral da
Terra) e o MPA (Movimento dos
Pequenos Agricultores), sob o
guarda-chuva da organização internacional Vía Campesina.
Gilmar Mauro, da coordenação
nacional do MST, diz que as reivindicações serão feitas, "entendendo as limitações de início de
governo, mas com o governo tendo que entender também a situação explosiva no campo". A afirmação pode ser entendida como
um "fôlego" concedido pelo MST
para o início do governo petista,
apoiado pelo movimento.
Seguindo uma máxima do ideólogo do MST, o economista João
Pedro Stedile, de que "se reunião
resolvesse o problema no campo,
o MST faria só reuniões", o movimento quer respostas práticas.
O próprio Stedile, que organiza
o encontro em novembro, disse
que haverá cobrança. "Queremos
discutir o modelo agrícola. É necessário mudar a lógica atual, que
copia o modelo norte-americano,
e redirecionar toda política para
democratização da propriedade
da terra, reorganização da produção para alimentos e o mercado
interno, estímulo aos agricultores
familiares e assentados", disse.
Segundo Stedile e o coordenador João Paulo Rodrigues, a
"agenda mínima" abrange um
programa emergencial, para ser
implementado no primeiro ano
do governo Lula, com exigências
econômicas e políticas.
Para ele, há alguns pontos básicos. O novo governo, diz, teria
que "liberar áreas para assentar as
90 mil famílias hoje acampadas
no país" e liberar mais créditos
para assentamentos. "O Pronaf
(Programa Nacional de Agricultura Familiar) tem que ser menos
burocrático. Vamos ver se cooperativas de crédito, formadas pelos
assentados, apressam a liberação
dos recursos", afirma Rodrigues.
No plano político, a revogação
de portarias e medidas provisórias do atual governo é a prioridade. Segundo Rodrigues, o fim do
"congelamento das vistorias em
áreas invadidas e a anistia para os
assentados excluídos da reforma
agrária são vitais para se restabelecer a justiça no campo". A MP
2.109, de março de 2001, definiu a
suspensão por dois anos de vistorias com fins de reforma agrária
em áreas invadidas, desestimulando as ações. Já foram congeladas vistorias em 88 áreas, e outras
29 estão com processo de desapropriação parados por invasões.
Ontem, as lideranças misturavam esperança e alerta. "O agora é
Lula vai ser transformado em
agora somos nós. Sua vitória é
simbolicamente muito forte, com
o povo criando a expectativa de
um novo país", disse Rodrigues.
Mas há sinais de alerta, como o
dado por Jaime Amorim, líder da
seção pernambucana do MST,
considerada uma das mais "radicais", por seus detratores, ou
"combativas", por seus defensores. Para ele, com Lula, o "inimigo" deixa de ser o governo e passa
a ser o latifundiário. "Lula sabe da
importância da reforma agrária",
diz Amorim. Mas sua vitória não
impedirá que as invasões continuem. "Não vamos parar." De
acordo com ele, as invasões servirão para "indicar" as áreas improdutivas ao governo. Como isso vai
ocorrer ainda é uma incógnita.
Colaborou FÁBIO GUIBU, da
Agência Folha, em Recife
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