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RAQUEL BARROS - 3º LUGAR
Sementes da mudança
Com o sonho de ser mãe, psicóloga cria projeto que acolhe mães
e filhos sob risco social
MARLENE PERET
ENVIADA ESPECIAL A SOROCABA
A psicologia e a maternidade
sempre caminharam juntas na
vida de Raquel Barros, 42.
Quando menina, já brincava
de terapeuta com as amigas.
E foi justamente ao precisar de
um divã para si própria que se
sentiu mãe pela primeira vez.
"Em qualquer assunto, o tema
central da minha terapia era
sempre a maternidade. Eu dentro de mim mesma. Eu mãe,
eu filha. Achava linda a mistura
e me embalava", lembra.
Foi com esse movimento que
ela edificou a Associação Lua
Nova, em Sorocaba (SP), onde
nasceu. Seu principal foco é o
fortalecimento da relação mãe-filho para uma vida conjunta.
"Empurrar o filho e ser puxado
por ele remete à mudança."
O caminho escolhido foi o da
geração de renda. "Sempre com
viés social", completa Raquel.
É fabricando bonecas ou sua
própria casa que as meninas superam traumas e constroem a
vivência de afeto com os filhos.
Mas o antigo sonho de ser
mãe, o mesmo que fecundou a
Lua Nova, precisou ser adiado.
Dos 10 anos que viveu na Europa, 4 foram em tratamentos,
sem sucesso. Triste, a psicóloga
retornou ao Brasil para trabalhar ao lado de jovens mães
em situação de risco social.
"Quero atuar com quem tem
o que não tenho", pensou. Obra
ou não do destino, dois anos depois que fundou a organização,
descobriu que estava grávida
das gêmeas Júlia e Sofia, 6.
Invisíveis
Para Raquel, "as meninas da
lua" representam uma população que ninguém quer ver.
"Coitadas, todos dizem." Daí o
nome da entidade, que simboliza a mulher e o lado obscuro da
lua -existente, mas invisível.
A idéia, pioneira no Brasil,
também preenche uma lacuna
do Estatuto da Criança e do
Adolescente, que separa a
criança da mãe que mora em
abrigo assim que se dá o parto.
Divertida, Raquel entra na
organização distribuindo recados. "Cadê o sapato, filho? Nossa, que príncipe, que princesa!
Eliane, ninguém é obrigado a
ver sua calcinha cor-de-rosa."
Quando pára e alguém a abraça,
a outra grita: "Também quero".
Essa alegria só acaba quando
ouve alguém dizer que suas
gêmeas estão "jogadinhas".
"Para mim, a maternidade, assim como a psicologia, é coletiva. Batalho pelas minhas filhas,
e isso não me impede de fazer o
mesmo pelos filhos das meninas da Lua Nova", conclui.
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