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O SOM
É como ir a um pub no começo dos 80
LÚCIO RIBEIRO
enviado especial ao Rio
Por trás da carcaça tecnológica
pós-moderna e sob o caos pré-histórico que foi a organização do
primeiro show do U2 no Rio, existiu, sim, a boa música.
É inegável que a infalível decadência sonora que sempre abalou
a todos no rock vem batendo já faz
tempo à porta da banda irlandesa,
que se sustenta mais por hits do
passado do que por sua atual incursão ao tecno.
Mas o que mais tem impressionado nesta "PopMart" é a capacidade do U2 de fazer soar como singles recém-lançados a penca de sucessos antigos que segura a turnê e
enche de gozo gerações diferentes
que acompanham a trajetória da
banda.
Pode-se acusar de qualquer coisa
Bono Vox e turma, mas não se pode negar que a banda tenha gás.
Desde a bateria seca e certeira de
Larry Mullen Jr. até os irrepreensíveis riffs da guitarra de The Edge,
tudo parece funcionar como funcionava nos primeiros shows em
pubs irlandeses.
A vocação de chacoalhar a platéia que se viu no Rio foi a mesma
presenciada em Londres, Sarajevo, na maioria das cidades por onde passou a "PopMart".
A resposta do público logo na
terceira música do espetáculo de
Jacarepaguá, "I Will Follow",
canção do comecinho dos 80, fez
parecer que ninguém naquele estádio ficou horas no trânsito, no
calor, à mercê de mosquitos, de
flanelinhas, sem banheiro.
Jacarepaguá por uns momentos
foi Londres circa 1981, dada a capacidade da banda em botar 100
mil pessoas em uma certa máquina do tempo musical.
E assim foi com "New Year's
Day", "Pride (in the Name of Love)", "Bullet the Blue Sky". O
show inteiro, o tempo todo.
Teve sua graça até o "momento
para brasileiro ver", com a bateria
do Salgueiro invadindo a canção
"Desire", em um bizarro cruzamento de samba com rock.
Mas, à medida que o show ia caminhando, Bono ia sucumbindo
ao calor e ao cansaço de primeiro
espetáculo depois das férias.
Em "With or without You", a
voz do irlandês já tinha ido para o
espaço, o que descambaria na indisposição que atingiu o vocalista
tão logo o show do Rio de Janeiro
terminou.
É lógico que tudo acima serve
para orientar os que alimentam
admiração pela banda e suas fases,
do início dos 80 até agora, do rock
engajado à grandiosidade hollywoodiana. Se você está no time de
Bono e for ao Morumbi amanhã e
sábado, prepare-se para um show
inesquecível.
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