São Paulo, quinta, 29 de janeiro de 1998

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O SOM
É como ir a um pub no começo dos 80

LÚCIO RIBEIRO
enviado especial ao Rio

Por trás da carcaça tecnológica pós-moderna e sob o caos pré-histórico que foi a organização do primeiro show do U2 no Rio, existiu, sim, a boa música.
É inegável que a infalível decadência sonora que sempre abalou a todos no rock vem batendo já faz tempo à porta da banda irlandesa, que se sustenta mais por hits do passado do que por sua atual incursão ao tecno.
Mas o que mais tem impressionado nesta "PopMart" é a capacidade do U2 de fazer soar como singles recém-lançados a penca de sucessos antigos que segura a turnê e enche de gozo gerações diferentes que acompanham a trajetória da banda.
Pode-se acusar de qualquer coisa Bono Vox e turma, mas não se pode negar que a banda tenha gás.
Desde a bateria seca e certeira de Larry Mullen Jr. até os irrepreensíveis riffs da guitarra de The Edge, tudo parece funcionar como funcionava nos primeiros shows em pubs irlandeses.
A vocação de chacoalhar a platéia que se viu no Rio foi a mesma presenciada em Londres, Sarajevo, na maioria das cidades por onde passou a "PopMart".
A resposta do público logo na terceira música do espetáculo de Jacarepaguá, "I Will Follow", canção do comecinho dos 80, fez parecer que ninguém naquele estádio ficou horas no trânsito, no calor, à mercê de mosquitos, de flanelinhas, sem banheiro.
Jacarepaguá por uns momentos foi Londres circa 1981, dada a capacidade da banda em botar 100 mil pessoas em uma certa máquina do tempo musical.
E assim foi com "New Year's Day", "Pride (in the Name of Love)", "Bullet the Blue Sky". O show inteiro, o tempo todo.
Teve sua graça até o "momento para brasileiro ver", com a bateria do Salgueiro invadindo a canção "Desire", em um bizarro cruzamento de samba com rock.
Mas, à medida que o show ia caminhando, Bono ia sucumbindo ao calor e ao cansaço de primeiro espetáculo depois das férias.
Em "With or without You", a voz do irlandês já tinha ido para o espaço, o que descambaria na indisposição que atingiu o vocalista tão logo o show do Rio de Janeiro terminou.
É lógico que tudo acima serve para orientar os que alimentam admiração pela banda e suas fases, do início dos 80 até agora, do rock engajado à grandiosidade hollywoodiana. Se você está no time de Bono e for ao Morumbi amanhã e sábado, prepare-se para um show inesquecível.



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