São Paulo, domingo, 30 de maio de 2010

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Futebol é saída contra "escolhas erradas" e "más influências"

ENVIADO A SALVADOR

Futebol é a única coisa que sei fazer", diz A., 15, paulista, enquanto espera para fazer o teste com o qual almeja integrar a equipe sub-15 do Esporte Clube Vitória, em Salvador (BA). O Centro de Treinamentos Manoel Pontes Tanajura fica ao lado do estádio Manoel Barradas, em um complexo de 300 mil metros quadrados com três campos de treinamento, em uma área em que seria possível a construção de outros 35, tal é o espaço ao redor.
Localizado no bairro Nossa Senhora da Vitória, marcado por conjuntos habitacionais deteriorados destinados a servidores públicos, com parte da região já em processo de favelização, o complexo esportivo é visto como a "porta da esperança", como define A.

"ESTOU DEVENDO"
A estrutura é um dos motivos que jovens de todo o Brasil vão a Salvador na tentativa de passar na chamada "peneira" do Vitória.
A., no entanto, tem outra razão para estar a 1.979 km de casa: "Estou devendo em São Paulo", afirma.
Magro, alto, sorridente e brincalhão, A. diz que "más influências" levaram-no às "escolhas erradas" em São Paulo. O futebol é sua paixão, mas a dificuldade da sobrevivência, declara, obrigou-o a envolvimento com droga e com pequenos roubos e furtos. Abandonou as "más influências" quando um empresário ofereceu-lhe passagem para vir tentar a sorte em Salvador.
Acha que vai passar na peneira?, questiona a Folha. "Isso aqui não é peneira. É teste. Peneira tem muita gente e qualquer um participa. Em teste você tem a indicação de um empresário", diferencia ele. Tem chance de passar no teste? "Futebol é fácil, mas às vezes a gente complica, né?", responde.

ESPIÃO DE EMPRESÁRIO
A Folha conversou com vários jovens no centro de treinamento do Vitória. Gente de diversas cidades. Entre as dezenas deles, poucos podiam ser apontados como brancos, sendo quase todos morenos, mulatos e negros.
Em um dos campos de treinamento, a equipe infantil está em atividade. Bola pela direita, um garoto franzino dribla o lateral e faz a bola chegar à área, onde outro garoto franzino mata no peito e arremata para o gol. Jogada de gente grande.
O repórter se aproxima para fotografar o garoto. Um apito paralisa o treino. "Olha lá, tem alguém tirando foto", reclama o treinador. Um auxiliar pede para que o repórter se identifique. Em seguida, sugere que se retire.
"O pessoal aqui morre de medo de espião de empresário", justifica. (PF)



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