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Futebol é saída contra "escolhas erradas" e "más influências"
ENVIADO A SALVADOR
Futebol é a única coisa que
sei fazer", diz A., 15, paulista,
enquanto espera para fazer o
teste com o qual almeja integrar a equipe sub-15 do Esporte Clube Vitória, em Salvador (BA). O Centro de Treinamentos Manoel Pontes Tanajura fica ao lado do estádio
Manoel Barradas, em um
complexo de 300 mil metros
quadrados com três campos
de treinamento, em uma área
em que seria possível a construção de outros 35, tal é o espaço ao redor.
Localizado no bairro Nossa Senhora da Vitória, marcado por conjuntos habitacionais deteriorados destinados a servidores públicos,
com parte da região já em
processo de favelização, o
complexo esportivo é visto
como a "porta da esperança", como define A.
"ESTOU DEVENDO"
A estrutura é um dos motivos que jovens de todo o Brasil vão a Salvador na tentativa de passar na chamada
"peneira" do Vitória.
A., no entanto, tem outra
razão para estar a 1.979 km
de casa: "Estou devendo em
São Paulo", afirma.
Magro, alto, sorridente e
brincalhão, A. diz que "más
influências" levaram-no às
"escolhas erradas" em São
Paulo. O futebol é sua paixão, mas a dificuldade da sobrevivência, declara, obrigou-o a envolvimento com
droga e com pequenos roubos e furtos. Abandonou as
"más influências" quando
um empresário ofereceu-lhe
passagem para vir tentar a
sorte em Salvador.
Acha que vai passar na peneira?, questiona a Folha.
"Isso aqui não é peneira. É
teste. Peneira tem muita gente e qualquer um participa.
Em teste você tem a indicação de um empresário", diferencia ele. Tem chance de
passar no teste? "Futebol é
fácil, mas às vezes a gente
complica, né?", responde.
ESPIÃO DE EMPRESÁRIO
A Folha conversou com
vários jovens no centro de
treinamento do Vitória. Gente de diversas cidades. Entre
as dezenas deles, poucos podiam ser apontados como
brancos, sendo quase todos
morenos, mulatos e negros.
Em um dos campos de treinamento, a equipe infantil
está em atividade. Bola pela
direita, um garoto franzino
dribla o lateral e faz a bola
chegar à área, onde outro garoto franzino mata no peito e
arremata para o gol. Jogada
de gente grande.
O repórter se aproxima para fotografar o garoto. Um
apito paralisa o treino. "Olha
lá, tem alguém tirando foto",
reclama o treinador. Um auxiliar pede para que o repórter se identifique. Em seguida, sugere que se retire.
"O pessoal aqui morre de
medo de espião de empresário", justifica.
(PF)
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