São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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R de campeão

Associated Press
Ronaldo, que, 12 gols em três Copas, quebrou tabu de 52 anos ao se tornar o artilheiro do Mundial e igualou marca de Pelé


DOS ENVIADOS A YOKOHAMA

Erre, de renascimento. Erre, de ressurreição. Erre, de redenção. Erre, de recorde. Erre, de camisa nove. Erre, de melhor ataque. Erre, de Brasil. Erre, de igual ao "Rei". A seleção dos "erres", dos 18 gols, quase a metade dele, fez ressurgir o mito apagado há quatro anos na final contra a França, que entrou em campo simplesmente para não jogar. Mito, desgastado pelo marketing excessivo, vazio, obscurecido por dois anos de sérias contusões, gelo, fisioterapia, apenas músculos, meniscos, joelhos. Mito, resgatado por um médico francês, pelo técnico Luiz Felipe Scolari e, desde hoje, por milhões de brasileiros. Mito, com erre. Erre, de Ronaldo.

Do inferno ao céu.
Ronaldo é bicampeão do mundo, é o primeiro brasileiro artilheiro de uma Copa desde 1950, o primeiro a igualar Pelé em Mundiais, integra a seleção ideal do torneio na Ásia e é sério candidato a melhor jogador do planeta em uma temporada de novo.
O atacante foi peça decisiva na conquista do penta, marcando os dois gols da vitória sobre a Alemanha. Atuou nas sete partidas, mais de uma delas durante todos os 90 minutos, apesar de ainda sofrer periódicas dores musculares.
Conseguiu ser campeão de uma Copa como protagonista. Quando adolescente, havia sido um figurante no tetra em 1994. Em 1998, fora responsabilizado em grande parte pela derrocada na final devido a uma crise nervosa.
O drama de quem ficou quase dois anos inativo e foi desacreditado por muitos teve um final (ou um meio, já que Ronaldo está com só 25 anos) mais do que feliz.
Hoje, dia de final, não houve crise. Houve choro. De campeão.
Em um dos 49 quartos do 12º andar do Yokohama Prince Hotel, Ronaldo teve madrugada, manhã e tarde tranquilas.
Dormiu cedo. O barulho no saguão, com torcedores batendo bola e cantando hinos de times até as 3h45, não foi incômodo para quem estava no ""céu".
Adormeceu com uma chuva forte, que na manhã era só uma fina garoa. Foi acordado às 11h pelo roupeiro Rogelson Barreto. Não tomou café da manhã.
Recebeu o ""Japan Times", jornal japonês escrito em inglês que fez uma edição especial sobre a final de quatro páginas, uma sobre a ""redenção" de Ronaldo.
Caminhou pelos corredores basicamente para as refeições -almoço tipicamente brasileiro às 12h, com arroz, feijão, frango grelhado, salada e batata cozida, e um lanche rápido às 16h.
Ninguém ficou mais tempo no quarto do que Ronaldo na seleção -nem tomou banho mais rápido, disse pessoa próxima a ele.
O jogador recebeu a visita do médico francês Gerard Saillant, que o operou duas vezes.
""Foi uma visita como amigo. Falamos de futebol, de seu cabelo. O mais importante para ele é jogar. Ganhar ou perder é do jogo", disse o médico, que viu Ronaldo após o almoço -Ricardo Teixeira almoçou com os atletas.
Ronaldo, que ouviu música e arrumou as malas, também recebeu o técnico Sebastião Lazaroni.
Diferentemente de 1998, Ronaldo embarcou no ônibus da seleção para o estádio da final com o restante do grupo -isso às 17h45 (5h45 de Brasília), 45 minutos após ouvir a preleção.
Sua escalação esteve sempre confirmada e não houve dúvida sobre sua condição física e mental. O médico da seleção, José Luiz Runco, não teve trabalho nas horas que antecederam a final, coisa que ocorrera com Lídio Toledo em 1998. ""Ronaldo chegou bem à Copa. Aqui, só tratamos de Rivaldo. As dores de Ronaldo foram eliminadas", disse.
No estádio de Yokohama, camisa 9 entregue, Ronaldo fez breve aquecimento e jogou sem problemas, espantando de vez o fantasma da Copa passada. O terror, o medo e o inferno ficaram para trás. Era noite no Japão, a chuva parou, como que esperando as lágrimas do novo campeão. O céu estava claro e aberto no Brasil. (FÁBIO VICTOR, FERNANDO MELLO, JOÃO CARLOS ASSUMPÇÃO, JOSÉ ALBERTO BOMBIG, PAULO COBOS, ROBERTO DIAS, RODRIGO BUENO E SÉRGIO RANGEL)


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