São Paulo, domingo, 30 de junho de 2002

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TOSTÃO

Brasil penta mundial

Hoje, queria ser apenas um torcedor. Ter vindo caminhando até o estádio, vestido com uma camisa amarela. Dançando, cantando e enrolado numa bandeira brasileira.
Queria ter assistido ao jogo no meio da galera. Gritando, sambando e aplaudindo os jogadores do início ao fim.
Queria ser o Tostão apenas por alguns momentos, para estar lá embaixo, de calção, chuteira, e reviver a glória de ser campeão do mundo.
Mas hoje não sou apenas torcedor, nem ex-jogador. Sou um colunista, metido a entender de futebol, com a obrigação de opinar e relatar os fatos. O pensamento e os meus desejos não podem ser onipotentes. Há uma realidade.
Nesse momento, liberto-me um pouco desse peso de observador para vibrar com o título. Ronaldo não fez um gol driblando os zagueiros e o goleiro, como eu sonhara, mas fez dois gols. O segundo, espetacular. Rivaldo abriu as pernas, e Ronaldo, com talento, técnica e genialidade, finalizou de curva, no canto. Ronaldo sonhou durante quatro anos com esse momento. Foi a vitória não somente do craque, mas também do homem.
Nesse longo período de preparação para o Mundial, critiquei e elogiei jogadores, técnico e comissão técnica. Muitos não aceitam as críticas de um ex-jogador. Confundem as coisas. Não entendem que sou um outro profissional.
O título não apaga os erros cometidos, nem os defeitos do time, técnico e jogadores. Mas hoje não é momento para repeti-los. É de elogiar e reconhecer os méritos.
Felipão teve acertos e erros. Mais acertos do que erros. Confirmou que é um excelente treinador. Evoluiu na seleção. Ironizou as críticas, mas fez muitas coisas que pedimos. A realidade nos mostrou, novamente, que a capacidade de comandar e motivar os jogadores é, muitas vezes, mais importante do que os detalhes técnicos e táticos.
Toda a comissão técnica está de parabéns pelo título, até o Antônio Lopes, que não tinha função. Mas os principais responsáveis pelo título são os craques do times, eles fizeram a diferença. Ronaldo e Rivaldo estarão eternamente na lista dos grandes jogadores da história do futebol brasileiro e mundial. Ronaldinho também teve momentos espetaculares.
Os outros destaques durante o Mundial foram Marcos, Roberto Carlos, Cafu, Gilberto Silva , Roque Júnior e Kleberson, no último jogo. Os demais foram guerreiros e não comprometeram. Assim como a França ganhou em 98 com Dugarry e Djorkaeff, o Brasil é campeão de 2002 com Edmilson no meio-campo. No último jogo, ele jogou de zagueiro.
O título não contradiz a péssima situação do futebol brasileiro fora de campo. No futebol, frequentemente não há relação direta entre as duas coisas. As reformas não podem ser adiadas. São urgentes e inevitáveis.
Mesmo considerando que tudo favoreceu o Brasil nessa Copa, a conquista serviu para mostrar que fizemos uma avaliação muito pessimista do futebol brasileiro no ano passado. Ele não estava decadente, nem os adversários eram tão fortes. Porém, as críticas serviram para melhorar.
Queria festejar nas ruas de Yokohama, juntamente com os torcedores brasileiros, mas não posso. A Copa ainda não terminou para a imprensa.
Sei que é errado afirmar penta -não foram títulos seguidos-, mas hoje quero dizer bem alto: Brasil, pentacampeão do mundo!

E-mail:
tostão.folha@uol.com.br


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