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São Paulo, terça-feira, 30 de setembro de 2003

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Número médio de filhos caiu de 6,2 para 2,3; rendimento feminino mensal ainda é 75,1% do masculino

Século 20 liberou as mulheres

DA SUCURSAL DO RIO

Uma bisavó de origem rural e pouco alfabetizada, uma avó que conquistou o direito ao voto, uma mãe que usou a pílula anticoncepcional e uma filha responsável pela própria família. Essa sucessão de gerações é hipotética, mas um pouco dela pode ser achada em muitas famílias, pois resume a trajetória da mulher no século 20.
A brasileira do início do século era pouco alfabetizada e cuidava da casa e dos filhos -muitos filhos. Vivia em média apenas 34 anos. Na década de 30, essa mulher e suas filhas conquistaram o direito de votar. Em 1932, o então presidente Getúlio Vargas permitiu o voto das mulheres que fossem autorizadas pelos maridos ou que tivessem renda própria.
Em 1934, a Constituição aboliu as restrições ao voto feminino. Ao longo do século, também ganharam direito de voto os analfabetos e os maiores de 16 anos.
Nos anos 30, uma das preocupações da mulher era salvar a vida dos filhos, pois a mortalidade infantil era alta. De cada 1.000 crianças nascidas vivas, 162 morriam antes de completar um ano. Eram muitos filhos: em 1940, a média era de 6,2 por mulher. O Brasil ainda era um país com quase 70% da população no campo.
Nos anos 40 e 50, o país começa a mudar. Chegam os antibióticos, elevando a expectativa de vida feminina e reduzindo as doenças infecto-contagiosas. Crescem as campanhas de vacinação. O surto de industrialização empurra o Brasil para as cidades. Há cada vez mais mulheres trabalhando fora.
Nos anos 60, uma revolução: pílula anticoncepcional, rock, discussão sobre direitos reprodutivos e militância política. Muitas mulheres se juntaram à luta armada contra o regime militar.
A pílula e a esterilização feminina derrubam a taxa de fecundidade para 4,4 filhos em 1980. Em 2000, a média é de apenas 2,3 filhos, e a expectativa de vida feminina é de 72,6 anos. No fim do século, a mulher representa cerca de 51% da população e 40% da População Economicamente Ativa. Quase 25% dos domicílios têm mulheres como responsáveis.
Ainda há, porém, desigualdades. O rendimento feminino é 71,5% do masculino, e, enquanto a mulher responsável pelo domicílio ganha em média R$ 591, o homem ganha R$ 827.
Para a economista Lena Lavinas, professora da Universidade Federal do Rio, a maior mudança do Brasil no século 20 é a da condição feminina. Segundo ela, não se deve ver a ascensão da mulher brasileira no mercado de trabalho apenas como um resultado da precarização da condição salarial do homem, que ela tentou suprir.
"A mulher não foi para o mercado de trabalho só para compensar as perdas do modelo assentado no "trabalhador chefe de família", mas também para escolher sua vida, tomar decisões de interesse próprio e poder assumi-las."
Para Lavinas, agora os desafios da mulher são descriminalizar o aborto, aumentar a presença de mulheres em todas as esferas sociais e garantir boas condições para o trabalho feminino, assegurando escola e pré-escola para os filhos. (FERNANDA DA ESCÓSSIA)


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