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Número médio de filhos caiu de 6,2 para 2,3; rendimento feminino mensal ainda é 75,1% do masculino
Século 20 liberou as mulheres
DA SUCURSAL DO RIO
Uma bisavó de origem rural e
pouco alfabetizada, uma avó que
conquistou o direito ao voto, uma
mãe que usou a pílula anticoncepcional e uma filha responsável pela própria família. Essa sucessão
de gerações é hipotética, mas um
pouco dela pode ser achada em
muitas famílias, pois resume a
trajetória da mulher no século 20.
A brasileira do início do século
era pouco alfabetizada e cuidava
da casa e dos filhos -muitos filhos. Vivia em média apenas 34
anos. Na década de 30, essa mulher e suas filhas conquistaram o
direito de votar. Em 1932, o então
presidente Getúlio Vargas permitiu o voto das mulheres que fossem autorizadas pelos maridos ou
que tivessem renda própria.
Em 1934, a Constituição aboliu
as restrições ao voto feminino. Ao
longo do século, também ganharam direito de voto os analfabetos
e os maiores de 16 anos.
Nos anos 30, uma das preocupações da mulher era salvar a vida
dos filhos, pois a mortalidade infantil era alta. De cada 1.000 crianças nascidas vivas, 162 morriam
antes de completar um ano. Eram
muitos filhos: em 1940, a média
era de 6,2 por mulher. O Brasil
ainda era um país com quase 70%
da população no campo.
Nos anos 40 e 50, o país começa
a mudar. Chegam os antibióticos,
elevando a expectativa de vida feminina e reduzindo as doenças
infecto-contagiosas. Crescem as
campanhas de vacinação. O surto
de industrialização empurra o
Brasil para as cidades. Há cada vez
mais mulheres trabalhando fora.
Nos anos 60, uma revolução: pílula anticoncepcional, rock, discussão sobre direitos reprodutivos e militância política. Muitas
mulheres se juntaram à luta armada contra o regime militar.
A pílula e a esterilização feminina derrubam a taxa de fecundidade para 4,4 filhos em 1980. Em
2000, a média é de apenas 2,3 filhos, e a expectativa de vida feminina é de 72,6 anos. No fim do século, a mulher representa cerca de
51% da população e 40% da População Economicamente Ativa.
Quase 25% dos domicílios têm
mulheres como responsáveis.
Ainda há, porém, desigualdades. O rendimento feminino é
71,5% do masculino, e, enquanto
a mulher responsável pelo domicílio ganha em média R$ 591, o
homem ganha R$ 827.
Para a economista Lena Lavinas, professora da Universidade
Federal do Rio, a maior mudança
do Brasil no século 20 é a da condição feminina. Segundo ela, não
se deve ver a ascensão da mulher
brasileira no mercado de trabalho
apenas como um resultado da
precarização da condição salarial
do homem, que ela tentou suprir.
"A mulher não foi para o mercado de trabalho só para compensar
as perdas do modelo assentado
no "trabalhador chefe de família",
mas também para escolher sua vida, tomar decisões de interesse
próprio e poder assumi-las."
Para Lavinas, agora os desafios
da mulher são descriminalizar o
aborto, aumentar a presença de
mulheres em todas as esferas sociais e garantir boas condições para o trabalho feminino, assegurando escola e pré-escola para os
filhos.
(FERNANDA DA ESCÓSSIA)
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