|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Taxa de matriculados até o ensino médio passou de 21%, em 1940, para 86%, em 1998
Ensino se massifica, mas perde qualidade
ANTÔNIO GOIS
DA SUCURSAL DO RIO
Quem nunca ouviu o pai ou o
avô dizer que, "no meu tempo", a
escola pública tinha qualidade?
Na maioria dos casos, a afirmação
é mesmo verdadeira. As "Estatísticas do Século XX" do IBGE mostram, no entanto, que essa comparação não pode ser feita sem levar em conta que, "naquele tempo", essa escola era para poucos.
A principal característica da
educação brasileira no século 20
foi a massificação do acesso ao ensino fundamental e médio. Os dados não permitem a comparação
exata com a faixa etária de 7 a 17
anos (idades indicadas para o ensino fundamental e médio), mas é
possível comparar as matrículas
com a evolução da população de 5
a 19 anos. O Anuário Estatístico
do Brasil de 1940 mostra que, naquele ano, havia 3,3 milhões de estudantes nos níveis primário e secundário, equivalentes hoje, juntos, ao ensino fundamental e médio. O número de matriculados
na escola representava apenas
21% do total de 15,5 milhões de
brasileiros entre 5 e 19 anos.
De 1940 para 1960, essa proporção evoluiu de 21% para 31%. Foi
só a partir da década de 60 que as
matrículas passaram a crescer
num ritmo muito maior do que o
crescimento da população em
idade escolar. A proporção chegou a 58% em 1978 e a 86% em
1998. A massificação do ensino fica mais evidente quando se observa a taxa de escolarização da população de 7 a 14 anos (idade indicada para o ensino fundamental)
em 2000, que chegou a 94,5%.
A melhoria nesses indicadores
mais básicos da educação resultou também na redução da taxa
de analfabetismo. O país iniciou o
século passado com 65,1% de sua
população com mais de 15 anos
de idade sem saber ler e escrever e
terminou com 13,6%, em 2000.
Comparando com outros países
e levando em conta que o Brasil
foi o país que apresentou o terceiro maior crescimento do PIB no
século 20, a taxa ainda é alta. A Argentina, que em 1970 tinha apenas
7% de sua população analfabeta,
terminou o século com 3,2%.
Para o educador Jorge Nagle,
autor do livro "Educação e Sociedade na Primeira República"
(editora DP&A), a escola da primeira metade do século estava
preparada para atender a um pequeno número de estudantes:
"Quando a educação se expandiu,
esse ajuste não foi feito. Continuamos com um padrão de ensino e
cultura muito semelhante ao daquela época e temos dificuldade
de pensar num novo padrão que
dê conta dessa massificação".
Para Nagle, apesar da quase universalização do ensino fundamental, a democratização do ensino só acontecerá quando houver qualidade. "O ensino fundamental está disseminado, mas a
escola ainda não está ensinando
adequadamente. Se o aluno não
aprende nos quatro primeiros
anos na escola, a democratização
fica só no número", diz.
Arnaldo Niskier, autor do livro
"Educação Brasileira - 500 Anos
de História" (Funarte), concorda:
"Não é preciso ter estatísticas
completas desde o início do século para perceber que a massificação veio acompanhada da perda
de qualidade. Isso é visível". Para
Niskier, a perda do prestígio do
professor é uma das principais
causas da queda de qualidade. "O
professor era de excelente qualidade e tinha alegria de dar aula.
Hoje, muitas vezes, ele dá aula por
obrigação e é um revoltado com
as suas condições de trabalho."
Texto Anterior: "O grau de segregação aqui é extremo" Próximo Texto: Sudeste concentra vida cultural Índice
|