São Paulo, 29 de Julho de 1996


Memória de Hemingway
sobrevive na ilha


Ali o escritor americano (1899 - 1961) viveu, criou drinques e buscou inspiração para escrever suas maiores obras

OSMAR ARASHIRO
Free-lance para a Folha

Além das praias "calientes", Cuba guarda a aura dos mais de 20 anos em que o escritor americano Ernest Hemingway (1899 - 1961) lá residiu e escreveu suas maoires obras, no rancho Finca Vigia, a 15 km do centro de Havana.
Mas por que morava em Cuba? Porque lá ele se sentia com o pé na terra, bebia seu daiquiri e lutava contra o peixe-espada. "Aonde em Nova York posso estar a 15 minutos do golfo, com frutas, vegetais, meus galos-de-briga e esses pássaros maravilhosos?", escreveu.
Se Hemingway estivesse vivo escrevendo "O Velho e o Mar" (1952), talvez buscasse inspiração no episódio dos "balseros", refugiados cubanos que tentam fugir em embarcações improvisadas.
Hemingway inspirou-se num pescador amigo para construir o prsonagem Santiago. Esse pescador em seu frágil barco luta para fisgar um peixe espadarte.
O duelo termina, mas o peixe é devorado por tubarões e o velho retorna à praia só com a carcaça.
Do vilarejo de Cojímar, arredores de Havana, tem partido o maior contingente de "balseros". É lá que que ainda mora Gregorio Fuentes, 95, piloto do iate de Hemingway e seu amigo pessoal.
Para os amantes da obra de Hemingway, uma caminhada por onde circulou o escritor é uma reconstituição do seu passado. A começar pela rua Montserrat, no bar-restaurante Floridita, onde ele criou com o "barman" o daiquiri "Papa Doble".
Após receber o Prêmio Nobel de Literatura de 1954, Hemingway ganhou um busto na parede do bar, proximo à sua mesa cativa.
Outra famosa taberna é o Bodeguita del Medio, de 1942, no número 201 da rua Empedrado. Na parede, um quadro com a célebre frase assinada por Hemingway : "my mojito in La Bodeguita, my daiquiri in La Floridita".
Na rua Obispo, uma placa na entrada do hotel Ambos Mundos lembra que lá "viveu durante a década de 30 o novelista Ernest Hemingway". Da janela do quarto 511, ele observava Hvana enquanto escrevia "Por Quem os Sinos Dobram".
Em dezembro de 1939, ele comprou o refúgio da Finca Vigia - propriedade de 43 mil m2 - por 18.500 pesos, dinheiro recebido pelos direitos cinematográficos de "Por Quem os Sinos Dobram".
A casa foi transformada em museu e aberta ao público em 1962. No início era possívlel entrar. Mas visitantes exaltados escondiam no bolso cartuchos da carabina do escritor ou folheavam um dos 9.000 livros da sua biblioteca.
A administração decidiu organizar a visita pelo lado externo. Assim mesmo é possível ver os móveis de madeira "caioba", animais empalhados, a máquina de escrever, livros e revistas.
Hemingway, muitas vezes, interrompia o ofício de escrever para receber hóspedes ilustres: Spencer Tracy, Katherine Hepburn, Jean-Paul Sartre, Marlene Dietrich, o duque e a duquesa de Windsor. Ava Gardner, dizem, gostava de nadar nua na piscina.
Em meados de 1960, o escritor deixa Cuba e segue para seu outro lar, nas montanhas de Ketchun, Idaho (EUA). Foi lá que levou uma arma à cabeça, numa manhã de domingo, 2 de julho de 1961.
"Quando se é campeão, é melhor a gente se retirar quando está no apogeu, ao invés de esperar que nossa fibra nos abandone", disse Hemingway, velho e doentio.



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