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Fábrica de ginastas

Em Curitiba, Oleg Ostapenko 'puxa' treino para formar geração que dispute medalhas na Olimpíada do Rio

FERNANDO ITOKAZU ENVIADO ESPECIAL A CURITIBA

São 8h e o nevoeiro encobre a cidade de Curitiba. Apesar do frio, as ginastas iniciam a sessão de treino.

Os técnicos estão espalhados pelo ginásio famoso por abrigar a antiga seleção permanente e nenhum se destaca. Mas um deles é uma grande estrela internacional.

O currículo do ucraniano Oleg Ostapenko fala por si.

Formador de ginastas campeãs em Olimpíadas, Mundiais, Universíades e Europeus, Oleg já acumula quase dez anos, não consecutivos, na capital paranaense.

Oficialmente, o projeto encabeçado pelo técnico prevê medalha olímpica em 2020. Mas quem convive com o treinador afirma que "ele não trabalha para ficar em quinto".

Oleg treinou a equipe feminina do Brasil de 2002 a 2008 e ajudou a levar o país a outro patamar na ginástica.

Com ele, o Brasil ganhou seu primeiro ouro em Mundiais, Daiane dos Santos criou um movimento com seu nome e Jade Barbosa surgiu como revelação mundial.

Era bancado pelo Comitê Olímpico Brasileiro, com ajuda de um programa de desenvolvimento do Comitê Olímpico Internacional.

Em sua primeira passagem, ficou faltando o pódio olímpico. Lacuna que pode ser preenchida agora.

De volta ao Brasil em 2011, a convite de parceria firmada entre a federação paranaense e o Movimento LiveWright, um grupo de empresários, Oleg aposta novamente no esquema vitorioso da primeira passagem com caras novas.

Um grupo de seis garotas com idades entre 12 e 15 anos treina duas vezes por dia, totalizando cerca de sete horas, recebe aulas particulares no próprio ginásio e conta com o apoio de equipe multidisciplinar formada por fisioterapeuta, massagista, nutricionista, psicóloga e médicos.

As meninas que vieram de fora moram em uma casa a poucos metros do ginásio.

O peso continua sendo um fator primordial. Coordenadora técnica do projeto, Eliane Martins afirma que não há alimentos proibidos, mas o controle é constante e as ginastas passam por pesagem duas vezes por dia.

"A balança não mente", diz Eliane, que já havia trabalhado com Oleg e conta histórias de meninas que recusavam comida na frente dos responsáveis, mas, escondidas, se empanturravam.

Na primeira passagem de Oleg no Brasil, vigorou o esquema de seleção permanente, com sede em Curitiba.

Muitas atletas reclamavam da reclusão. Com o fim da equipe, cada ginasta passou a treinar em seu clube.

Duas das principais críticas do sistema no passado, Jade e Daniele Hypólito, sofreram despejo do Flamengo e voltaram a Curitiba.

Com cara de bravo e às vezes esbravejando em russo durante o treino, Oleg tem a admiração das ginastas da nova geração, que usam a palavra "puxado" para explicar o treino do guru.

"É puxado, mas a gente tem que aguentar", afirma Caroline Mercer, 12. "E, às vezes, ele fica muito bravo."

"Ele é como tem que ser", diz Lorrane dos Santos Oliveira, 15, que chegou do Rio há cerca de um mês.

Com essa rotina, é normal que as meninas relacionem o descanso como uma das principais opções nas folgas. "Quando estou muito cansada, fico em casa mesmo", conta Mariana Valentim, 15.

Questionado sobre quem seria a grande aposta para a Rio-16, o ucraniano preferiu fazer uma análise geral.

"As meninas estão trabalhando, aqui é assim", afirma. "É muito difícil falar agora. Já vi muitas meninas boas que não conseguiram nada. Depende delas."

Ginasta olímpica em 2004 e hoje uma das técnicas em Curitiba, Caroline Molinari, 26, sabe bem disso. "Meu sonho era ir à Olimpíada. Mas, quando voltei de Atenas, olhei para o lado e vi que a vida era mais fácil fora daqui [dos treinos]. Parei."


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