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Este time tem muita alma, tem sede, é a cara do Corinthians PERTO DE CONQUISTAR SEU 1º TÍTULO BRASILEIRO, TÉCNICO REVELA ACIDENTE QUE QUASE O MATOU EM 1987 E DEFENDE ANDRES SANCHEZ NA CBF
DE SÃO PAULO A perda do título brasileiro em 1986 (que teve a final disputada no início de 1987) quase custou a vida de Tite, revelou o técnico à Folha ontem. Ele era jogador do Guarani, batido pelo São Paulo. Como treinador do Corinthians, Tite, 50, está perto de vencer seu primeiro Nacional. "É um objetivo a ser resgatado", disse, sobre o troféu que lhe escapou há 25 anos. Na entrevista a seguir, Tite diz que seu time "tem muita alma", defende Andres Sanchez na CBF e fala sobre sua relação com Luiz Felipe Scolari, que lhe deu esse apelido há mais de 30 anos, quando o levou para jogar no Caxias. - Folha - O time tem a sua cara? Tite - É a primeira vez em São Paulo que começo uma temporada e estou terminando uma temporada. Esse time tem a cara do Corinthians, tem muita alma, mentalidade forte, sede de vencer. Em que momento o Corinthians virou favorito ao título? Foi ainda no Paulista, no primeiro jogo da final, contra o Santos [0 a 0]. Ali já deu um sinal de que estava forte. E qual foi o pior momento? Contra o São Paulo, porque era um clássico, um campeonato à parte, como será contra o Palmeiras. E aquele jogo poderia tirar muito a confiança da equipe, ou resgatá-la. Foi um marco [0 a 0]. Teve medo de ser demitido? Não dá para eu pensar nisso, senão vou dar um foco para uma coisa que foge da minha alçada. No do Tolima [eliminação da Libertadores, em fevereiro], eu sabia que poderia perder o emprego. Com ou sem título, o Corinthians está na Libertadores. Eu cobrava de mim. Classificar o Corinthians à Libertadores era um objetivo meu. O outro, que eu me cobro agora: ganhar a Libertadores. Para pagar pela eliminação? Não para pagar. Seria uma retribuição pela confiança do presidente, que me apoiou. O que acha do Andres na CBF? É a valorização de um presidente que fez o que fez, do trabalho dele. Ato corajoso de quem não deve e não teme. Senão, deixaria para depois. Não precisa de tempo. E se fosse o presidente de um clube rival na situação? Seria fácil esconder o fato. Falar: "Andres, você é o cara, mas não vamos falar agora". Não tem momento que você é correto ou sem-vergonha. Ou é ou não é. Você faz planos de dirigir o Corinthians no Itaquerão? Eu planejava ficar um ano aqui e ser campeão (risos). Mais do que isso não dá para planejar (risos). Tem mágoa do Scolari? Passou, passou. Vocês se falaram? Não. Vocês tinham uma amizade. Exato. Ela não é a mesma. A relação é mais profissional. E se ele te abraçar domingo? É uma coisa natural. Deixa as coisas fluírem de forma natural. Mas existe o reconhecimento, do passado, que ele me ajudou, isso permanece inalterado. Já somos grandes. Não vamos forçar nada. Amizade tem que fluir, ser espontânea, natural. Você tem lembrado muito de 1986. Ainda dói? É um objetivo a ser resgatado. Senti o gosto do título, estava muito perto, família já vibrando, e daqui a pouco... Qual é o tamanho da ferida? Eu não consegui dormir. Acabou o jogo, fui para casa eram duas horas da manhã. Eu disse para a minha mulher: "Rose, não vou aguentar ficar aqui, vamos embora". Seis da manhã peguei o carro e fui pra Caxias. Levou quanto tempo? Eu não lembro. Mas quase morri. Eu e ela, num acidente de carro. Como foi isso? Perto de Vacaria [no RS] rodei, dei duas voltas na pista e quase desci uma ribanceira. Isso foi no final da tarde. Passei o dia dirigindo, dá 15, 16, 17 horas até lá, 1.080 km. Estava chovendo? Não. Perdeu o controle? Perdi o controle. De cansaço? Cansaço. Queria chegar em casa, ficar perto da família, tentar esquecer logo. Lembro que rodei, soltei o volante, botei a mão nela, queria protegê-la, passam 300 coisas... É a primeira vez que conto, só eu e ela sabemos. E quando o carro parou? Ela disse: "Vamos sair daqui". Tinha um barranco. Eu consegui voltar e direcionar. Tremia tudo. É por isso que você sempre lembra de 1986? Não, não pelo acidente em si. Mas pela sensação de estar com uma coisa tão perto. Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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