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Tostão

Os números mentem

Existe, no futebol brasileiro, um excesso de espaços entre a defesa, o meio-campo e o ataque

Concordo que não há uma grande equipe no Brasileirão e que a principal qualidade do Corinthians é o conjunto -méritos para Tite-, mas discordo que o time e o elenco sejam inferiores aos outros. Estão no mesmo nível. Não se deve confundir fama, preço do investimento e sucesso em outras épocas com atual eficiência.

Em minha seleção do campeonato, há três jogadores indiscutíveis: Neymar, Dedé e Paulinho. Nas outras posições, há vários do mesmo nível.

Hoje, o Vasco enfrenta a Universidad de Chile. No primeiro jogo, como se esperava entre dois times que se equivalem, um dominou, fez o gol, e o outro reagiu. Após o empate, Juninho Pernambucano, que joga muito e vê o jogo, elogiou o futebol compacto dos chilenos, que deixam poucos espaços entre suas linhas.

Essa é uma característica das principais equipes da Europa. A distância entre o jogador mais recuado e o mais adiantado não costuma ser maior que a metade de um campo. Isso facilita a troca de passes e dificulta a do adversário.

Por outro lado, há mais espaços nas costas dos zagueiros, que marcam na frente. O Santos pode aproveitar isso. O Barcelona só não leva mais gols porque os zagueiros são rápidos, o goleiro sabe jogar fora do gol e a equipe fica com a bola a maior parte do tempo.

No Brasil, há muitos espaços entre os setores. Os zagueiros atuam encostados à grande área. Os jogadores adversários, quando passam pelos volantes, vão com a bola para cima dos zagueiros. Se os volantes marcam atrás, ficam muito distantes dos jogadores de frente. Esse é um dos motivos da pouca troca de passes. O jogador é obrigado a fazer passes longos para o companheiro marcado. A bola vai e volta.

Mano Menezes concordou com Juninho sobre o excesso de espaços nos times brasileiros. Mas pisou na bola ao dizer que nosso futebol é mais lento. É o contrário. Os jogadores correm demais. É o jogo intenso.

Há, no futebol brasileiro, um excesso de estatísticas e de informações inúteis, de discussões sobre coisas que têm pouca importância, de conclusões tipo causa e efeito e de agrados para aumentar a audiência. Fala-se muito de tática, mas quase só de números.

Com a intensa movimentação dos jogadores, isso não faz mais sentido. Os números não dizem a verdade.

Faltam discussões mais amplas sobre futebol e sobre ciência do esporte. Não dá audiência. No fim do ano, os técnicos se reúnem e, em boa parte do tempo, trocam gentilezas e elogios. E nada muda.

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