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Juca Kfouri
Escrita cruel
Querer explicar certas coisas no futebol é busca inútil que nenhum leitor merece perder tempo lendo
O SÃO PAULO encaixotou o Corinthians durante todo o primeiro tempo diante de mais de 50 mil torcedores no Morumbi.
Não fez o gol porque Maicon perdeu gol feito de cabeça e porque faltou talento para Ademílson em seguida.
Verdade que o segundo tempo foi bem mais equilibrado, porque a superioridade tática do São Paulo perdeu para o cansaço tricolor, que acabou por ver Emerson desperdiçar aquele gol que fazia no ano passado, como o segundo da decisão da Libertadores, contra o Boca Juniors.
Mas quis o árbitro dar a vitória a quem mais a mereceu ao inventar um pênalti para Rogério Ceni encerrar heroicamente sua carreira contra o maior rival. Heroicamente sim, porque com a coragem de quem havia perdido suas últimas três cobranças.
Não quiseram, no entanto, Cássio e, sobretudo, o deus dos estádios, que o Mito tricolor prevalecesse.
O 13º empate corintiano virou vitória e o de número sete são-paulino pareceu conta de mentiroso, porque com gosto amargo, gosto de derrota.
Razão pela qual, rara leitora, raro leitor, não queira explicação para o que não há, neste ano de 2013 em que o São Paulo não ganhou nem um jogo que seja do Corinthians, em nada menos que seis Majestosos, alguns deles decisivos pelo Paulistinha e pela Recopa Sul-Americana.
Pior: passou o 12º clássico em sua casa sem vencê-lo, com cinco derrotas e sete empates desde o distante 2007.
Não que o resultado tenha sido catastrófico porque não foi. O Vasco também perdeu, e o São Paulo até superou o Coritiba, embora permaneça só dois pontos fora da zona do rebaixamento.
Mas o que explica tamanha escrita, semelhante à que já impôs ao alvinegro?
Você poderá achar que se deve ao pouco talento tricolor e não estará totalmente errado.
Depois de tantos anos convivendo com os mistérios do jogo de futebol, a melhor explicação é ainda mais simples: não há explicação para o inexplicável, com o perdão da redundância acaciana.
Melhor atribui-la ao sobrenatural rodrigueano.
No caso dos quatrocentões, Sobrenatural de Almeida Prado.
'CONTAÇO'
Ter gostado do livro "O Drible", de Sérgio Rodrigues, levou-me a outro livro de outro Sérgio, o Sant'Anna, autor de um conto também fabuloso no livro "Páginas Sem Glória", no qual mistura ficção e realidade entre lances extraordinários e boêmia nos anos 50 e 60.
Devo a dica ao bom gosto de José Trajano e Xico Sá. O livro é da Companhia das Letras, lançado no ano passado. Onde estava o colunista que não viu? Devia estar em Marte, só pode.
E pensar que participarei da Fliporto, em Olinda, em novembro, numa mesa que discutirá "por que o futebol brasileiro é ainda melhor que a literatura a seu respeito", tema que propus.
Bem agora que não tem ninguém jogando a bola dos dois Sérgios acima.