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Juca Kfouri

O interino da CBF

Com ele tive das conversas mais surrealistas, esclarecedoras e inesquecíveis de toda a minha vida

JOSÉ MARIA MARIN, 79 anos, como se sabe, está com o Santos no Japão, como presidente interino da CBF enquanto o titular goza de merecidas férias.

Afinal, Joseph Blatter também está no Japão e certos encontros não são aconselháveis neste momento da história pessoal de Ricardo Teixeira, coadjuvante importante do momentoso livro do jornalista Amaury Ribeiro Jr., "A Privataria Tucana".

Nele ficam ainda mais claras as documentadas relações da famosa Sanud com a RLJ do cartolão e os pagamentos da ISL.

Marin foi governador de São Paulo entre meados de 1982 e começo de 1983, presidente da Federação Paulista de Futebol entre 1982 e 1988 e foi ainda chefe da delegação brasileira na Copa do Mundo de 1986, no México.

Nesta condição, viajamos lado a lado, por mera coincidência, num sábado, 1º de junho de 1985, pela manhã, pela Varig-Cruzeiro, para Santa Cruz de La Sierra, onde a seleção brasileira enfrentaria a boliviana no dia seguinte pelas eliminatórias.

Ao me cumprimentar, o ex-governador foi direto ao ponto: "Você não gosta de mim, não é?".

Ao que, surpreso com a crueza, respondi: "Não gosto do que o senhor representa no futebol".

Ele foi ainda mais incisivo: "Não, você acha que eu sou ladrão", afirmou.

"Governador, o senhor jamais leu ou ouviu isso de mim", reagi, curioso por saber onde aquilo iria acabar.

"Pode ser, mas é o que você acha, por não entender que o que nos distingue são visões de mundo diferentes", ponderou quase paternal.

E completou: "O que você não entende é que é impossível alguém ficar mesmo que por pouco tempo como governador de São Paulo e não sair rico do Palácio".

Aí, divergi e retruquei: "Não é verdade. O governador Franco Montoro vai sair tão rico ou tão pobre como entrou".

Marin não se fez de rogado: "Ah, o Montoro, ele deixa o dinheiro da caixinha para o PMDB. Eu já entrei rico no governo, mas me perguntei, pelos meus filhos, pelos meus netos, se tinha o direito de não jogar o jogo".

Almoço servido à nossa frente, não me restou outra atitude que não arrematar aquela conversa maluca, e que me ensinou que todos dormem com a consciência tranquila: "Governador, bom apetite. O senhor tem razão. O que nos distingue são visões diferentes de mundo".

Em tempo: o Brasil ganhou de 2 a 0.

Ganhou?

blogdojuca@uol.com.br

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