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Xico Sá

Viver é bola nas costas

Não adianta encarar o ciúme com a tática do ferrolho. A melhor defesa é o ataque irresponsável

Amigo torcedor, amigo secador, eu deveria estar na praia a essa altura, esquecido de glórias ou das derrotas, de Libertadores e de mundiais. No entanto, aproveito o embalo do debate moralista pós-Santos x Barça para deixar aqui as minhas lições da bola. O que podemos aprender no dia-a--dia com o futebol, suas virtudes, suas alegrias passageiras, suas traições e suas trapaças:

Viver é levar bola nas costas, sejamos um lateral tacanho que não vai nem à esquina ou um avançado Daniel Alves, sempre correndo riscos. Na vida, à vera, somos todos Perivaldos. Com alguns dias de Cafu e regularidade. Por isso tento um outro caminho. O do gênio Marinho Chagas.

No amor, então, por mais devotos à pessoa amada, deixamos sempre uma avenida para o avanço do inimigo. Aí só nos resta furar o disco do Lupicínio, o homem que inventou o hino do Grêmio e a dor-de-cotovelo.

Podemos também nos acomodar no triângulo amoroso, onde o círculo do bobinho é vicioso, como joga o Barcelona e como já previa o poeta Cacaso, ainda nos anos 1970.

Não adianta escalar dez volantes, amigo. É a mesma coisa que ficar no baile com cara trancada de marido. Não adianta encarar o ciúme com a tática do ferrolho. A melhor defesa, especialmente nesse caso, é o ataque irresponsável. Porque os chavões do futebol só dão certo na vida amorosa.

Barceloniza, amigo, eis o princípio e o verbo contemporâneo. Principalmente se você for um mal-diagramado pela natureza como este cronista. Porque o esquema catalão é perfeito para um homem feio. A gente vai minando o juízo da moça com paciência e triangulações flutuantes. O bonitão não tem sossego e calma para jogar assim o seu lero.

Vale repetir um velho mantra esportivo aqui de casa: se o galã aposta no nocaute, o mal-ajambrado triunfa por pontos. Só não vale jogar uma vida inteira na sobra. E sem a bola. Óbvio que temos as nossas fases de gandula: pegamos a nega e entregamos, de mãos beijadas, ao próximo. Acontece.

Uma vida assim Chulapa também vale. Já fui um Beijoca e não me arrependo. Viver, às vezes, é um golzinho chorado de canela. Durante o êxtase entre quatro paredes, por exemplo, somos Dadás, paramos no ar quais helicópteros ou beija-flores.

Íbis do amor, me despeço por este ano. Boas festas e paz na família, porque a sogra pode ser um Chicão, o saudoso bigode do São Paulo, mas também pode ser assim um volante de classe.

xico.folha@uol.com.br

@xicosa

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