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Rita Siza

Violência atrai violência

Sindicato dos jogadores da Holanda saiu em defesa do goleiro que agrediu um adepto rival

Esta semana, a agressão do goleiro do time holandês AZ Alkmaar a um adepto enlouquecido do Ajax, que invadiu o campo durante a partida para a taça da Rainha, demonstra como violência só atrai mais violência, como subverte as regras do jogo e como inviabiliza o espectáculo e o convívio e festa saudável que o esporte pode proporcionar.

Surpreendido por um jovem torcedor de 19 anos, que sob efeito do álcool conseguiu escapar à vigilância dos seguranças e investir gramado fora, Esteban Alvarado, o goleiro da Costa Rica, respondeu com um golpe de karaté à ameaça. E com o intruso já estendido no chão, continuou a pontapeá-lo, numa agressão imediatamente sancionada pelo árbitro com cartão vermelho. O inusitado incidente levou à interrupção do jogo, depois do AZ Alkmaar se ter recusado a prosseguir em campo.

Entretanto -e numa resposta que me parece independente do espírito de tolerância, compreensão e boa vontade que é típico da época natalícia- o sindicato dos jogadores da Holanda saiu em defesa do goleiro, intercedendo para que não lhe fosse aplicada a suspensão. A associação de futebol holandesa já veio garantir que Alvarado não será penalizado pelo cartão. Em declaração sem precedentes, o ministro da Justiça lamentou o ataque "brutal" e criticou "malucos e bestas que não pertencem ao futebol".

É um facto que Alvarado reagiu com violência excessiva a um ataque que apesar de injustificado, não chegou realmente a ocorrer. E é verdade que nada pode desculpar o recurso à força. Mas como salientaram os jogadores em campo, essa reacção epidérmica é compreensível atendendo às circunstâncias. O técnico do Ajax, Frank De Boer, ilibou o goleiro, sublinhando tratar-se de resposta que se explica "emocionalmente", e não pela razão. "Talvez eu fizesse a mesma coisa, talvez não. Mas entendo porque ele o fez."

Também é facto que o cartão vermelho de Alvarado respeita os regulamentos do futebol, que dizem inequivocamente que os jogadores devem ser expulsos no caso de agressão a outro jogador, árbitro, membro da equipa técnica ou da audiência.

Já agora, convém assinalar como o Ajax esteve bem, ao assumir as suas responsabilidades, banir o hooligan de jogos do clube por toda a vida, desculpar-se ao visitante e prontificar-se a repetir a partida (o time da capital vencia por 1-0).

Mas mesmo se todos os intervenientes estiveram mais ou menos à altura, não deixa de ser lamentável. As respostas prontas e dignas não devem servir para passar uma esponja pelo assunto, ou para esquecer que quando estas cenas acontecem, não há ninguém que se saia bem, todos perdem.

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