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Arte? Não, treino!

Craque do Fla campeão mundial em 1981 afirma que seria difícil de aturar a seleção de 1982 se o time treinasse como o Barcelona

rodolfo stipp martino
DE SÃO PAULO

Depois do triunfo do Barcelona sobre o Santos no Mundial de Clubes, o ex-jogador Zico, ídolo do Flamengo e da seleção brasileira, afirmou que durante a semana respondeu muitas perguntas sobre a goleada de 4 a 0.

Para ele, não há muito segredo. Não basta só ser "artista" para jogar um futebol bonito. É fundamental bastante treino, trabalho, companheirismo e dedicação.

Em conversa com a Folha, por telefone, ele declarou que não gosta de fazer comparações entre times atuais e antigos, mas fez vários comentários sobre algumas equipes que entraram para a história pelo futebol vistoso.

"A seleção de 1982, comigo, Sócrates, Cerezo e Falcão juntos, treinando diariamente, como eles [do Barcelona] treinam, seria duro de aturar", disse, referindo-se ao time nacional brasileiro que participou do Copa na Espanha e que caiu eliminado diante da Itália, por 3 a 2.

Segundo ele, o brilho daquela seleção poderia ter sido bem maior se esse quarteto estivesse mais entrosado.

"Contra a Escócia [segunda partida do Brasil no Mundial, triunfo de 4 a 1], foi a primeira vez que atuamos juntos [os quatro meio-campistas]. A gente não tinha nem treinado juntos", contou.

No primeiro jogo daquela competição, vitória difícil de 2 a 1 sobre a então União Soviética, Cerezo, suspenso, não jogou. Depois, entrou no time titular, que embalou.

Outra equipe lembrada por Zico pelo seu futebol ofensivo foi a seleção de 1970.

Comandada por Pelé, o time fez, na Copa no México, uma bela campanha, finalizada com o título e goleada sobre a Itália por 4 a 1.

"O Brasil teve três meses para treinar. Aí, o Jairzinho jogou na direita, o Rivellino, na esquerda, o Tostão foi lá para frente", disse Zico.

"Adaptaram os melhores a um esquema de jogo. Ficou fácil. É isso o que acontece com o Barcelona. Reuniu os melhores, e treina todo dia."

Antes de comentar sobre o time do Flamengo de 1981, ele enalteceu que no Barcelona não há um volante que só se limita a ser simplesmente um marcador, um "cão de guarda", perto da defesa.

"No meio de campo deles, todo mundo joga. Os grandes jogadores sabem que são bons, mas quando perdem a bola todo mundo fica posicionado e marca", afirmou.

Em seguida, apontou que essa característica é semelhante à do Flamengo que foi campeão mundial há 30 anos, ao superar o Liverpool, da Inglaterra, por 3 a 0.

"A gente sabia que não era forte na marcação, mas quando perdia a bola estava todo mundo junto, agrupava e tentava diminuir o espaço dos adversários", declarou.

SEM SURPRESA

Para Zico, o desempenho do Barcelona apresentado contra o Santos não foi nenhuma surpresa. Ele estranhou que o futebol bonito do time espanhol tenha provocado tanta repercussão neste momento no Brasil.

"Parece que estão vendo só agora o Barcelona. Os caras vêm jogando assim há cinco anos. Quem acompanha a Champions League vê que o Barcelona joga assim já há um tempão", declarou o ex-jogador flamenguista.

Ele lembrou que a equipe já era muito boa na época em que lá jogavam Deco, Ronaldinho e Eto'o. Com os três, o clube foi campeão europeu na temporada 2005/2006.

"Aí, foram encaixando algumas peças", afirmou Zico, citando o forte poderio econômico do clube catalão e as contratações do atacante David Villa e do meia Fàbregas.

"Qual time brasileiro tem hoje a condição de comprar o Fàbregas?", perguntou.

Apesar da goleada do campeão europeu sobre o sul-americano no Mundial de Clubes deste ano, Zico não vê o futebol do Brasil em uma posição inferior atualmente.

"O futebol brasileiro não está atrás do europeu, não. O Barcelona é que é uma exceção", disse o atual técnico da seleção do Iraque.

Em sua visão, se a seleção brasileira tivesse mais tempo para se reunir, poderia armar uma equipe para atuar no estilo do time espanhol.

"É só ter a sorte de reunir os melhores atletas, ter tempo para treinar e colocá-los para jogar em campo. O problema das seleções é que você não tem esse tempo."

Com as festas de fim de ano, o Barcelona só voltará a entrar em campo em janeiro.

Já Zico participará de partida beneficente no estádio do Morumbi na próxima quarta-feira, o "Jogo das Estrelas". Neymar, Raí e Ronaldo estão entre os convidados.

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