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Juca Kfouri

Futebol de quinta

Mesmo em momentos melhores do que o atual, o futebol brasileiro parecia da terceira divisão mundial

SEMPRE QUIS me colocar na vida de um jornalista esportivo paraguaio.

Ficava imaginando como seria o dia a dia de alguém que mesmo apaixonado por seu ofício é obrigado a cobrir um futebol desimportante e pobre no panorama mundial.

Claro, a paixão do torcedor do Olimpia, do Cerro Porteño, do Libertad é igual à do corintiano, são-paulino ou palmeirense. Mesmo assim, deve ser duro saber que o máximo a ser atingido pela seleção nacional é participar de uma Copa.

Pois é como ando me sentindo ao acompanhar este Brasileirão.

Quando acontece de o Cruzeiro não jogar bem e só empatar com o medíocre Botafogo, a sensação se aprofunda e só não deprime por duas razões: temperamento avesso às depressões e por haver situações verdadeiramente graves para causá-las, como o massacre em Gaza.

Se o sábado à noite no Maracanã foi desanimador, o domingo no Couto Pereira chegou às raias do desesperador.

Coritiba e Corinthians disputaram um jogo digno da junção de suas iniciais com acento circunflexo, num 0 a 0 abaixo de zero enquanto Palmeiras e Bahia não faziam melhor no Pacaembu.

Ainda no sábado, diante de mais de 45 mil torcedores já frustrados de antemão pela ausência de Kaká que levara a maioria a comprar ingressos antecipadamente, o tricolor jogou uma bolinha tão pequena que, embora apenas uma de suas estrelas supere a folha salarial do Criciúma, não passou de pálido 1 a 1 com o time catarinense.

Veja bem: tanto o Coritiba quanto o Bahia estão entre os quatro da zona do rebaixamento e o Corinthians tinha a chance de diminuir para três a diferença de pontos entre ele o líder Cruzeiro.

Se não bastasse, o gramado curitibano (ou seria coritibano?) estava encharcado numa das laterais em bela tarde de sol e os torcedores coxas cuspiam no banco visitante. Ou seja, mais de quinta impossível, dentro, fora de campo, no banco, para rebaixar ainda mais o futebol brasileiro, há anos em baixa.

Como talvez nem mesmo o meu imaginado jornalista paraguaio seja capaz de supor ser possível no futebol cinco vezes campeão mundial.

Não, não pense que atribuirei a indigência técnica, moral e administrativa ao 7 a 1, porque o resultado acachapante apenas aprofundou o fosso entre o futebol do outro lado do Atlântico e o que simula-se disputar por aqui.

Talvez o melhor retrato do que vi no domingo seja a atitude de Fagner, o lateral corintiano que ainda consegue sobreviver como profissional, punido com um cartão amarelo por trocar empurrões infantis com Zé Love e pela expulsão depois fruto de mais uma falta com a finalidade de truncar o jogo.

Ah, ficou tudo igual no Couto Pereira e no Pacaembu onde, ao menos, saíram dois golzinhos.

Talvez me mude para Assunção.


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