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Juca Kfouri
Estraga-prazeres
Um doce para quem adivinhar os nomes, ou a sigla, dos que ajudam a Alemanha a fazer mais gols
Hoje tem mais um Majestoso.
Por culpas democraticamente distribuídas com majestade muito menor do que deveria ter.
A começar pelos jogadores alvinegros e tricolores, protagonistas de dois vexames no meio de semana contra o Coritiba e a Chapecoense.
Francamente, o São Paulo não poderia jogar tão apaticamente como fez no Couto Pereira --mesmo sem Kaká, cujas quatro letras parecem ser o verdadeiro quarteto do Morumbi.
Do mesmo modo, o Corinthians beirou o ridículo em sua casa ao só empatar, e por pouco não perder, para um time apenas esforçado cuja folha salarial é equivalente à da comissão técnica do Parque São Jorge.
Hoje Kaká jogará, mas Pato ficará fora por mais um dos usos e costumes antiespetáculos da indigência intelectual de nosso futebol.
Se fosse só isso a sufocar o interesse do torcedor até estaria tudo bem. É claro, tem mais. Muito mais.
Aí os jogadores são vítimas, não culpados.
Em breve teremos rodadas inteiras do Campeonato Brasileiro e da Copa do Brasil prejudicadas pelas datas Fifa porque ambos os torneios não param quando joga a seleção brasileira.
Ponha-se no lugar do técnico da seleção. Você deixaria de convocar jogadores para não prejudicar os clubes?
A culpa não é dele a não ser pelo fato de nem tentar influir para acabar com o absurdo. Nem o atual nem os anteriores.
Mais ocupados em distribuir relógios para seus iguais pelo mundo afora, os cartolas nacionais matam diariamente a galinha dos ovos de ouro. Uma, duas, três, quatro, cinco, seis, sete vezes por mês. Quando chegarem a 30 ficarão radiantes e comemorarão com vinho branco alemão.
Se Pelé disse "love, love, love", o Sheik disse "vergonha, vergonha, vergonha!". Porque malandro conhece malandro, e ele, como os cartolas, pode vestir uma camisa listrada e sair por aí.
A diferença dos tempos de Pelé para os do Emerson é óbvia: nos tempos do Rei, nem mesmo os cartolas tinham poder para ganhar do talento. Hoje, em época de seca, têm.
Some-se a tudo isso os assopradores de apito que infestam os gramados nacionais às quartas, quintas, sábados e domingos. Bola na mão ou mão na bola? Eles simplesmente não sabem distinguir.
Para não falar do sistema de registros dos jogadores, incapaz de ter a informática como aliada porque diminui o poder de manipulação dos poderosos capitães hereditários que nos infelicitam.
Na mediocridade predominante, ser campeão passa a ser secundário. Buscar vaga na infame Libertadores, ou não ser rebaixado, passa a ser o gol dos pobres ricos e vaquinhas de presépios clubes do patropi.
Como curtir um Majestoso tão plebeu?
Só mesmo pela velha rivalidade.
Ou pela vaga na Libertadores porque o Cruzeiro parece inatingível. Como a Alemanha.