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Juca Kfouri

Nostalgia x realidade

Não só por aqui, mas também na Argentina se discute o que se passa nos gramados

ROMÂNTICO INCORRIGÍVEL, o companheiro Antero Greco escreveu em sua obrigatória coluna no "Estado de S. Paulo" que ninguém prefere um Corinthians x Flamengo a um Corinthians x Palmeiras na Pauliceia, assim como ninguém, no Rio, o prefere a um Flamengo x Vasco.

É a pura verdade e jamais vi alguém dizer o contrário. Mas todos, em São Paulo, no Rio de Janeiro e até a maioria em Mirassol, preferem um Corinthians x Flamengo a um Corinthians x Mirassol.

E é disso que se trata quando se defende mais espaço para o Campeonato Brasileiro nos fins de semana e a substituição dos campeonatos estaduais por torneios regionais como o Rio-São Paulo, Sul-Minas, Copa do Nordeste, em sistema de mata-mata, tiro rápido, para abrir a temporada.

Porque a resistência em se adaptar aos tempos modernos e, dialeticamente, uma modernidade perversa são fartamente responsáveis pela queda de qualidade do nosso futebol, assim como do argentino -até outro dia a segunda melhor escola do mundo, inferior à brasileira apenas por ser menor.

O brilhante jornalista argentino Ezequiel Fernández Moores, admirado com o banho de bola que o Barcelona tem dado em quem de truz lhe apareça pela frente, faz perguntas em artigo recente no "La Nación" que cabem perfeitamente por aqui: Em que momento nossa história foi substituída por histeria?; Quando os chefes de torcida uniformizadas passaram a disputar espaço com os craques?; Quando o épico saiu do campo para a arquibancada?; Quando o amor ao futebol virou show artificial?; Quando passamos a acreditar que nosso campeonato nacional é o mais competitivo do mundo?; Quando passamos a acreditar que o importante é ganhar?; Quando começamos a privilegiar a luta em vez de o jogo?; Quando os craques passaram a ser ativos dos fundos de investimento?; Quando Julio Grondona (Ricardo Teixeira) decidiu se eternizar na AFA (CBF)?

Moores diz que as recordações são sempre mais generosas que o presente. E, citando o seu conterrâneo já falecido jornalista Dante Panzeri, que o moderno pode não ser progressista ou o velho pode não ser caduco, como dito, no livro "Fútbol. Dinámica de lo impensado", de 1967, inédito no Brasil.

Sim, se os nossos Estaduais estão só caducos, o futebol do talento organizado do Barcelona é fruto de quem aposta no espetáculo e gosta mais do jogo que da vitória. E, ainda assim, ganha.

Ou será que é por isso mesmo?

blogdojuca@uol.com.br

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