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Superliga registra, pelo 2º ano seguido, ato de racismo

VÔLEI
Wallace, do Cruzeiro, é chamado de macaco em jogo contra o Minas

MARIANA BASTOS
DE SÃO PAULO

Pelo segundo ano consecutivo, a Superliga masculina foi palco de ofensas raciais dirigidas a um atleta.

Em 2011, a vítima foi Deivid, então jogador do São Bernardo. Desta vez, Wallace Souza, do Cruzeiro. O oposto é um dos principais destaques do torneio, ocupando a terceira posição na lista dos maiores pontuadores.

O ato racista aconteceu anteontem à noite em Minas Gerais, um dos maiores polos do vôlei no país, durante o clássico entre Cruzeiro e Minas. O ginásio estava cheio, com mais de 3.000 pessoas.

Como de costume, Wallace vinha tendo grande atuação, e sua equipe, até então líder da Superliga, vencia por 1 set a 0 na casa do rival.

Após o atleta efetuar um saque no segundo set, uma voz feminina gritou da arquibancada do Minas, em Belo Horizonte: "Vai lá, macaco. Volta para o zoológico".

A Folha entrou em contato com Wallace, mas ele não atendeu às ligações. O jogador foi orientado pelo clube a não se pronunciar.

Em declaração reproduzida no site do clube, o atleta, que teve passagens pela seleção, disse que os insultos prejudicaram seu rendimento.

"É muito revoltante escutar uma coisa dessas, não dá para aceitar. Foi até melhor eu não ter conseguido ver a pessoa, pois eu podia ter perdido a cabeça. Isso me tirou um pouco do jogo", disse Wallace ao site do Cruzeiro.

Com seu principal jogador desfocado, o Cruzeiro permitiu a virada, e o Minas venceu por 3 sets a 2 (20/25, 25/27, 25/23, 25/19 e 15/12). Após a derrota, o time de Wallace acabou perdendo a liderança da Superliga.

Em nota oficial, a CBV (Confederação Brasileira de Vôlei) cita o "possível caso de preconceito". O grito da torcedora foi captado pela emissora que transmitia a partida.

A entidade informou que o delegado do jogo acionou a segurança para identificar a autora das ofensas raciais, mas, até o fim da partida, ninguém havia sido identificado.

A confederação afirma que reúne toda a documentação do caso para avaliá-lo e, se necessário, encaminhá-lo para o Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Em nota, o Minas tentou se eximir de responsabilidade pelo ocorrido. "É justo destacar que se tratou de manifestação individual, impossível de ser controlada pelo clube e que em nada reflete a filosofia e os valores do Minas", disse o clube mandante via assessoria de imprensa.

O Código Brasileiro de Justiça Desportiva prevê multa de até R$ 100 mil ao clube cuja torcida "praticar ato discriminatório (...) relacionado a preconceito em razão de origem étnica, raça (...)".

No ano passado, o caso envolvendo o jogador Deivid não resultou em punições aos autores das ofensas ou multa ao clube que sediou o jogo.

O fato ocorreu durante duelo entre o então time de Deivid, o São Bernardo, e o Londrina, mandante da partida. O atleta, assim como Wallace, foi chamado de macaco por torcedores rivais.

Segundo a CBV, o caso não foi levado ao STJD pois os autores das ofensas, por serem menores de idade, são "desportivamente inimputáveis".

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