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Juca Kfouri

Sem amigos

Cobertura da fuga de Ricardo Teixeira comprova que falar é fácil, fazer é que são elas

A FRASE mais dita, e desmoralizada, em nossa imprensa é a que prega que jornalista não tem amigo além de seus leitores, ouvintes ou telespectadores.

De fato, nossa profissão, no limite, é solitária. Entre a verdade e a lealdade criada por vínculos de amizade ou negociais, não há dúvida, o fato deve prevalecer, doa em quem doer. Até em nós mesmos.

Tudo isso para tratar da forma como alguns amigos de Ricardo Teixeira estão lidando com a sua fuga da CBF e do COL, ao deixar uma carta demagógica e repleta de meias verdades para ser lida, de forma tatibitate, por seu sucessor.

Houve quem parecesse órfão, tamanho o tom choroso dado à exaltação feita ao demissionário.

Do mesmo modo, o renunciante foi homenageado sob o argumento de que não tem condenações criminais, a prova de que como se pode só falando verdades produzir uma inverdade, pois Teixeira foi e é beneficiado pela promiscuidade dos tribunais do Rio de Janeiro, algo, aliás, que, há anos, a própria imprensa, a carioca especialmente, tem denunciado com competência e coragem.

Porque não é possível deixar de mencionar as prescrições que o beneficiaram e os trancamentos e arquivamentos. Tão estranhos que, agora, entre 19 e 28 de março, serão objeto de corregedores federais, quem sabe incomodados com a saída repentina de quem, se não deve, não teria por que temer. Ora, não é no mínimo curioso que tanto Teixeira quanto João Havelange tenham escolhido a saída da saúde para renunciarem aos seus postos no mundo do esporte?

Dói falar de brasileiros tão ilustres com fins tão melancólicos? Paciência!

Nunca será demais lembrar quantos desembargadores da Justiça do Rio viajaram para Copas hospedados nos melhores hotéis dos Estados Unidos e de Paris, à custa da CBF. Ou da Associação dos Juízes Federais usando os gramados da entidade. Por que vale denunciar as mazelas de nossa Justiça quando envolve quem tem dinheiro e poder e esquecer delas para argumentar com a inocência do amigo? Lealdade que macula a verdade.

Houve também quem assumisse um tom mais militante na cobertura, às vezes até panfletário, não poucas descambando para o sensacionalismo. Sim, porque embora a maioria dos veículos importantes tenha coberto com equilíbrio (e o equilíbrio, no caso, não pode esconder quem é o protagonista), é evidente que jornalismo tem lado.

Lado que só não pode brigar com os fatos.

blogdojuca@uol.com.br

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