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Códigos secretos

Documento expõe artimanhas combinadas entre engenheiros e pilotos da F-1 para ludibriar os adversários e até a própria equipe durante treinos e corridas

FÁBIO SEIXAS
DO RIO

Por trás das mensagens de pilotos e engenheiros da F-1, há muito mais do que as palavras reproduzidas pela TV.

Há senhas, cliques no botão do rádio, frases cifradas. Há mentiras deslavadas. Há até gestos furtivos, que lembram os de jogos de cartas.

Há complexas séries de códigos secretos, com o objetivo de ludibriar não só os outros times como também gente que veste as mesmas cores, colegas da própria escuderia.

A Folha obteve um documento enviado pelo engenheiro de uma equipe a seu piloto durante testes de pré-temporada. São orientações sobre como proceder durante o Mundial. Em grande parte, códigos para decorar.

É revelador sobre como funcionam as relações na F-1.

O documento começa com o engenheiro dando instruções mais convencionais ao pupilo, como o melhor procedimento para as largadas.

"Você pode até insistir no seu estilo, mas tenha em mente que nosso protocolo foi criado após vários testes de embreagem e de pneus."

Orienta-o a desligar sensores durante os testes, para aprender a se virar com futuras falhas, e a praticar entradas no pit lane no limite da velocidade permitida -100 km/h na maioria dos GPs.

Também pede que o piloto treine mais pit stops e que trabalhe para melhorar o desempenho nas "out laps" -as voltas com pneus ainda frios, após deixar os boxes.

"Fomos muito mal nisso em Valência", afirma o engenheiro, referindo-se a uma bateria anterior de testes.

Chega, então, o item "códigos". Que ocupa uma página inteira do documento e cujos principais trechos estão reproduzidos nesta página.

E que escancaram um ditado das pistas de corrida: "seu companheiro de equipe é seu primeiro adversário".

Fica claro que, dentro de cada time, existem dois.

A ponto de o engenheiro sempre se referir ao pessoal do piloto que divide os mesmos boxes com uma expressão fria. "A outra equipe."

Em um determinado momento, após combinar uma frase cifrada que o piloto deve dizer ao constatar melhorias no carro, faz um alerta para que "a outra equipe" não perceba a artimanha.

"Se usarmos sempre, é um tiro que pode sair pela culatra. E não podemos falar isso em testes, porque nessas situações é praxe a outra equipe experimentar tudo o que estamos tentado. Eles perceberiam que estamos querendo esconder as coisas", diz.

O documento ainda apresenta um novo instrumento de comunicação: cliques no botão do rádio, imperceptível nos diálogos transmitidos pela TV, sempre editados.

Com requintes de sofisticação: um, dois ou três cliques, curtos ou longos, têm diferentes significados de acordo com as circunstâncias.

O último ponto é mais direto. Chama "bônus para os caras" e mostra que é preciso mais que tapinhas nas costas para motivar mecânicos.

O engenheiro lista dez integrantes do time de quem seria bom conseguir "um esforço extra". E dá até o preço.

"Sugiro € 200 ou € 300 [R$ 500 a R$ 750] para cada, deixando claro que eles não podem contar para ninguém e que haverá outros agrados em casos de pódios."

Faces menos glamorosas da F-1. Mas, ainda assim, F-1.

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