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Juca Kfouri O acaso, por acaso Variações em torno da vida e de suas eternas circunstâncias aplicadas ao jogo de futebol O ACASO fez de Cássio o herói corintiano? Ou foi por acaso que o vilão vascaíno Diego Souza perdeu aquele gol? Não, Cássio mandou aquela bola a escanteio porque treina para tanto e soube aproveitar sua incomum envergadura para fazer a defesa salvadora. E tampouco foi o acaso o responsável pela perda do atacante, provavelmente esfalfado ao chegar do meio de campo à meia-lua perseguido por Alessandro e assustado diante daquele gigante. Mas também não foi uma jogada pensada, ensaiada, treinada, nada! Foi o acaso de uma lambança de Alessandro, dessas capazes de encerrar uma carreira. Sim, o Corinthians seria eliminado mais uma vez da Libertadores por mero acaso. Ou seria menos por acaso e mais pela intranquilidade corintiana quando se trata do torneio continental e que leva à cruel fábrica de vilões como Guinei, Coelho, Moacir, para não falar de Marcelinho Carioca, que acabou absolvido? Ao tratar de acasos, há que se fazer referência ao mestre Tostão, conhecedor das coisas da vida como poucos e das do futebol por menos gente ainda, porque além de ter estado lá escreve como jogava, refinadamente. Pois bem, Mestre Tostão ensina que tudo é importante nas quatro linhas: a tática, o físico, a técnica, o talento -este é imprescindível-, componentes essenciais para que o acaso dê o ar de sua graça, para que o acaso decida, transtorne e fique à espreita de uma nova oportunidade. Que aparecerá, e nós, que não somos nem réis, que dirá Tostão, buscaremos explicar com teorias e esquemas que, é claro, existem mesmo, mas dos quais o acaso se ri. Pois, como escreveu Machado de Assis, e Carlos Drummond de Andrade completou, "o acaso... é um Deus e um diabo ao mesmo tempo" e "as obras--primas devem ter sido geradas por acaso; a produção voluntária não vai além da mediocridade". Aliás, por acaso você viu o Cássio por aí? Já imaginou se ele toma aquele gol logo em seguida ao 1 a 0 por ter saído mal do gol? Seu agora reserva Júlio César cantaria para ele, como Lupicínio Rodrigues: 'Se acaso você chegasse no meu chatô e encontrasse aquela mulher (a bola) que você gostou, será que tinha coragem de trocar nossa amizade por ela que já lhe abandonou?". Daí o arremate final, de outro gênio, de Mark Twain: "O nome do maior dos inventores; acaso". Vá lá, gênios também exageram. Não por acaso. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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