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Torcedor, na grade, 'ouve' a partida mais de perto Para um pequeno grupo, acompanhar a partida do alambrado vira exercício de agonia e intuição RODRIGO MATTOSDE SÃO PAULO Dentre os mais de 30 mil corintianos no Pacaembu, um grupo de cerca de 50 vive sua agonia em um local onde mal podem ver o jogo. São os que se aboletam no alambrado de separação do campo, visão tapada por pessoas, bancos, carrinhos. Assistir ao jogo dali é entender que o futebol não é só a bola. Até porque, de lá, quase não é possível vê-la. Junto à grade, ouvir o restante da torcida é essencial para compreender o jogo. A maioria do grupo se concentra do lado do ataque do Corinthians. De lá, com os bancos de reservas cobertos por propagandas, não dá para ver o seu próprio goleiro. Foi o silêncio dos outros corintianos que fez a torcida do alambrado entender que Neymar tinha marcado o gol santista. Outro sinal procurado por eles é ouvir a torcida rival, ontem diminuta. No grupo de torcedores do alambrado, há também nômades. Quando o Santos partia em contra-ataque, havia quem caminhava ou corria à procura de ângulo favorável. E havia quem se pendurasse na grade. Mas, do alto, só dá para ver bolas aéreas. Outros preferem ficar estáticos, meio rezando, à espera da bola em seu ataque. Mesmo quando ela chega, a visão é recortada. Até um assistente de câmera com o cabelo "black power" ajuda a tampar boa parte da visão das traves. A agonia, então, aumenta. No alambrado, é perceptível, tem mais fumantes em média do que no restante do estádio. Ali, quase não se canta como nas arquibancadas. As pessoas são sempre as mesmas, dizem frequentadores. A posição é sempre a mesma e tensa: agarrados à grade com os dedos ou chutando-a quando há revés. Mas são eles que hostilizam Neymar a apenas cinco metros do craque no aquecimento. E são eles os mais próximos da bola quando Danilo domina e desloca Rafael. Aí, ironia, o torcedor mais preso à grade, menos consciente do que ocorre no jogo, torna-se o mais livre. Sem cadeiras ou bancos, o grupo corre, se joga no alambrado e na água no gol corintiano. Logo depois, prendem-se à grade de novo, sem ver quase nada, mas perto de tudo. Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros |
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