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Juca Kfouri

Mudança de rota

As relações do governo federal com a CBF e com o COB passam por delicado momento de correção

CBF E COB viveram no melhor dos mundos no governo Lula. Após um primeiro momento de colisão, com a aprovação do Estatuto do Torcedor e da chamada Lei da Moralização do Esporte, vistas pelas entidades como contra elas, Lula deixou-se seduzir pela cartolagem, saiu em sua defesa e lhe deu não só a Timemania como as leis de incentivo. Sem exigir nenhuma mudança no modelo de gestão, como seria obrigatório, o que só aprofundou os problemas.

A gestão Dilma ainda patinou no relacionamento graças ao comportamento servil do ex-ministro do Esporte Orlando Silva Jr., que acabou caindo em meio às mais variadas denúncias, embora consideradas inconsistentes pelo Conselho de Ética do próprio governo.

A chegada de Aldo Rebelo à pasta esfriou o relacionamento, mantida a formalidade institucional.

A saída pelos fundos do ex-presidente da CBF, a chegada do novo acumulando cargos no Comitê Organizador Local da Copa do Mundo, mais o incômodo do COI com o mesmo procedimento do presidente do COB, que também acumula a presidência da Rio-2016, somados ao mau desempenho em Londres, permitiram ao governo federal uma correção de rota que, se seguida com firmeza, poderá trazer resultados positivos no futuro imediato e mais ainda a longo prazo.

Nestas alturas, por delicados que sejam os movimentos, é indisfarçável o empenho governamental em tomar as rédeas dos megaeventos no país e em parar de dar dinheiro diretamente ao COB. Em todos os escalões são abundantes as críticas à má gestão do dinheiro público no caso do COB, além de se fazer coro às preocupações do COI.

Do mesmo modo que se está de acordo com o constrangimento da Fifa pela imagem do novo presidente da CBF, não só por seu passado subserviente e colaboracionista em relação à ditadura como, principalmente, pelo episódio da subtração da medalha, que "correu o mundo", segundo a coluna ouviu de envergonhado alto funcionário da entidade que controla o futebol mundial.

Afinal, se o conservadorismo político ou, mais, o reacionarismo, são marcas tradicionais na cúpula do esporte -Juan Samaranch, o antecessor do atual presidente do COI, era franquista de carteirinha, e João Havelange, na Fifa, se dava melhor com ditadores sul-americanos e africanos-, havia uma preocupação com o decoro que os fazia evitar gestos públicos como o de José Maria Marin na premiação da Copa São Paulo de futebol júnior.

Carlos Nuzman já dá sinais de ter entendido que a situação se complicou e tem piscado mais que o normal. Seu descontrole na entrevista final em Londres, sem saber que estava sendo gravado, comprova: "Não dá mais para fazer reunião e fazer merda. Tô de saco cheio, eu tô cansado, tô cansado de fazer merda. Me encheu".

blogdojuca@uol.com.br

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