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Juca Kfouri

A torcida emergente

O fenômeno nem é novo, mas dá as caras cada vez com mais força nos estádios de futebol

TORCEDOR VAIAR a seleção é tão antigo como ela mesmo.

A ponto de Nelson Rodrigues ter escrito, quando o time que ganhou o tricampeonato partiu, sob apupos, para o México, que a seleção deixava seu exílio. Sempre foi assim, com maior ou menor força.

A novidade, também nem tão nova assim, reapareceu no Morumbi, na figura de torcedores, e de muitas torcedoras que, além de vaiar o mau futebol do time de Mano Menezes, gargalhavam a cada surto, como se estivesse, além de protestando, desopilando o fígado. Uma farra, mas de muitos que nem sabem ao certo quem é aquele Rômulo.

Gente que pagou caro, como há tempos são caros os ingressos para ver o time da CBF, e que está longe de ser aquele torcedor conhecido como arquibaldo e/ou geraldino.

Coisa que também se vê não é de hoje no Pacaembu, nos jogos do Corinthians, só que, aí, mais misturada com, digamos assim, o velho torcedor, espécie em extinção no processo de elitização -e que a Copa no Brasil deverá aprofundar.

Os excluídos que, repita-se, tampouco deixavam de vaiar, estão sendo igualmente marginalizados nos campos de futebol cada vez mais pasteurizados e tecnológicos.

É o torcedor-consumidor, ou o consumidor-torcedor, gente que tende a votar nos nada excelsos russomanos que invadem nossas praias, disfarçados de protetores, como o antigo caçador de marajás, dos que ascendem com dinheiro no bolso e pouco na cabeça, vítimas do sistema educacional brasileiro.

São aqueles tipos que hoje viajam de avião de bermuda e camiseta regata, se encostando sem pudor para espanto das zelites.

Ou que acompanham a seleção nas Copas mundo afora, cantando que são brasileiros, com muito orgulho e muito amor, estímulo mais brochante que excitante, contraponto edulcorado para os bandos de loucos, do dá-lhe, dá-lhe, ou da casaca e da fuzarca, que gostam ainda de ver futebol em pé.

Nada que sirva para minimizar o futebol abaixo da crítica do último 7 de setembro -que tem no garoto-propaganda Neymar seu maior símbolo, popstar, longe, no entanto, de ser seu maior responsável.

Desta vez não foram vistas bandeiras verde-amarelas jogadas no gramado, embora coros se despedissem de Mano Menezes, como, às vésperas da Copa do tetracampeonato, o Maracanã clamou para Raí pedir para sair, crueldade tão injusta como as vaias para Paulo César Caju em 1970, de novo no Morumbi, ou a perseguição com Zico em São Paulo, só porque era do Rio.

Então, os emergentes ainda não tinham nascido e o bairrismo era mais visceral.

Hoje, despolitizada e inconsequente, esta massa será mais facilmente seduzida se Hulk e companhia começarem a golear.

Como é que são elas. Mano parece saber, mas só nas entrevistas.

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