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Cenas de várzea

Seleção de Mano encara caos no trânsito, apagão, beija-mão e campo precário antes de bater o Gabão

SÉRGIO RANGEL
ENVIADO ESPECIAL A LIBREVILLE
Sia Kambou/France Presse
Brasileiros celebram o segundo gol na vitória sobre o Gabão
Brasileiros celebram o segundo gol na vitória sobre o Gabão

Gabão 0
Brasil 2
Sandro, aos 11min, e Hernanes, aos 34min do 1º tempo

A seleção nunca teve tanta dificuldade para ganhar o seu cachê milionário.
Apesar da fragilidade do rival, os atletas dirigidos por Mano Menezes foram obrigados a enfrentar uma série de problemas antes de a bola rolar em Libreville, no Gabão.
Cenas de culto a personalidade, trânsito caótico, falta de luz e muita lama foram obstáculos impostos ao time nacional no país africano.
Como se não bastassem os problemas fora de campo, a seleção jogou no pior gramado dos últimos anos. O campo lembrava o de uma típica pelada de várzea.
A lama do gramado não foi uma novidade para os brasileiros. Antes de chegarem ao estádio, eles percorreram os quilômetros finais no ônibus por ruas cobertas de barro.
Oficialmente, o amistoso, vencido pela seleção por 2 a 0, foi marcado para a inauguração do moderno Stade d'Angondjé, concluído às pressas e erguido numa área isolada da capital do Gabão.
Mas a partida acabou se tornando uma espécie de celebração ao presidente Ali Bongo. Numa cena rara na política mundial, o dirigente atrasou o início do jogo -que demoraria ainda mais a começar pela falta de energia elétrica ocorrida pouco depois-, para descer ao campo e cumprimentar cada atleta.
Ali foi aplaudido durante os quase cinco minutos que ficou no campo. Haverá no próximo mês eleições legislativas no país. Milhares de aliados de Ali foram ao estádio. A família do presidente comanda o país há 44 anos.
Fã de futebol, o comandante do Gabão pagou cerca de R$ 1 milhão para levar a seleção brasileira ao país. Após o evento político, o estádio ficou no escuro por 13 minutos.
Os capitães dos times fizeram o tradicional sorteio do início do jogo na escuridão.
Só quando os administradores da arena decidiram desligar o novo telão do estádio é que a energia foi restabelecida. Em nenhum momento, porém, os torcedores protestaram pela demora.
Erguido por chineses em troca de uma mina de ferro no país, o Stade d'Angondjé foi inaugurado inacabado.
Além do péssimo gramado, não havia roletas para a torcida entrar no estádio. Policiais conferiam os bilhetes nos portões. Do lado de fora, as obras continuavam. Na arquibancada, havia pedaços de madeira espalhados.
Antes de chegar à arena, a seleção teve que contar com dezenas de batedores para percorrer em uma hora um trajeto de 15 quilômetros.
Como a cidade tem só um acesso do centro ao estádio, formou-se um engarrafamento de mais de dez quilômetros. Torcedores ficaram mais de duas horas no trânsito.
Por fim, depois de tantos problemas na noite, os jogadores não tiveram tempo para descansar. A seleção voou ontem mesmo para Doha (Qatar), local do amistoso de segunda-feira contra o Egito.

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