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Juca Kfouri

Noite iluminada

A exibição de 'Os Rebeldes do Futebol' a céu aberto em Cartagena é mesmo inesquecível

LUA CHEIA, a chamada lua de São Jorge, cerca de 1.200 pessoas na plateia, num dos cenários mágicos da colombiana Cartagena das Índias. No telão, um dos cinco filmes escolhidos para serem apresentados gratuitamente em praça pública, a Plaza de Banderas, no mais tradicional festival internacional de cinema da América Latina, em sua 53ª edição.

"Os Rebeldes do Futebol", da dupla de franceses Gilles Péres e Gilles Rof, conduzido e comentado pelo craque francês e ídolo dos ingleses do Manchester United, Eric Cantona, conta cinco histórias de resistência do passado longínquo, do recente e dos dias de hoje.

Didier Drogba, por exemplo, dedicando a classificação da Costa do Marfim para a Copa de 2010 à unificação de seu país; Carlos Caszely se recusando a dar a mão para o ditador chileno Augusto Pinochet, quando a seleção do país andino embarcava para a Copa da Alemanha, em 1974; ou Predag Pasic, que recusou propostas do futebol alemão e permaneceu na destruída Sarajevo durante a guerra da Bósnia entre 1992 e 1995, ensinando futebol para as crianças de lá; ou ainda Rachild Mekhloufi, o argelino que fugiu da França com seus companheiros para formar a seleção da Frente de Libertação Nacional, contra o governo colonialista francês e a Fifa, numa guerra que durou de 1954 a 1962 e culminou com a independência do país africano, dominado desde 1830; e, finalmente, o Doutor Sócrates, cuja história fecha o filme, com a "Democracia Corinthiana" e a campanha pelas "Diretas Já!" no começo dos anos 80.

Impossível não se comover com Caszely contando a história de sua mãe, torturada como represália a seu gesto, quando já se encontrava na Espanha, jogando pelo Espanyol.

Mais impossível ainda, por motivos estritamente pessoais, segurar as lágrimas quando, ao fim da exibição, o diretor Péres pediu a todos que homenageassem o Doutor fazendo seu gesto ao comemorar gols, braço erguido, punho cerrado.

Uma dessas jornadas que não se esquecem e que permitem agradecer ao jornalismo.

E pensar que pensei em não ir...

No dia seguinte, 26, uma entrevista coletiva para cerca de 200 jornalistas do mundo inteiro, na qual Cantona acrescentou mais uma frase à de Paulo Roberto Falcão sobre pendurar as chuteiras.

Se para o Rei de Roma o jogador de futebol é o único homem que morre duas vezes, a primeira quando para com a bola, para o Rei de Manchester abandonar o futebol é como assistir à própria morte.

A boa notícia é que tudo está encaminhado para o filme ser lançado no Brasil, em maio no Rio e em junho em São Paulo, no Museu de Futebol.

Posso garantir que tanto o Museu do Futebol merece ser palco de filme tão impactante como o filme merece ser lançado no encantador Museu do Futebol.


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